Retrosuburbia: O guia do Downshifter* para um futuro resiliente.

Com a maioria das pessoas cada vez mais alienada pela exploração, vigia e manipulação das corporações, temos cada vez menos capacidade de discutir e lidar com assuntos complexos. Muitos dizem não acreditar nas mudanças climáticas antropogências. Alguns dizem até que a escassez energética é uma estratégia e não um limite da biocapacidade do planeta. Mas essa polarização deveria nos impedir de construir vidas mais conectadas com a natureza? Como esse dabate nos cega para a destruição inegável da sociedade instrial e tecnológica?

Em 2007 David Holmgren escreveu o ‘Cenários Futuros’, livro no qual projetava 4 possíveis cenários de acordo com as possíveis combinações entre a velocidade do declínio energértico em um eixo e das mudanças climáticas em outro. Em 2010 ele escreveu o artigo ‘O dinheiro contra a energia fóssil: a batalha pelo controle do mundo’. E em 2013 ele escreveu ‘Quebra por Encomenda: Bem-vindos ao cenário Brown Tech’. Nesse último ele argumentava que já estávamos em um cenário com rápidas mudanças climáticas, mas com um declínio energético relativamente abrandado pelas inovações em energias renováveis.

Em 2018 David escreveu o que ele mesmo chama de seu projeto mais ambicioso, o ‘Retrosuburbia: O guia do Downshifter* para um futuro resiliente’. Nele Holmgren compartilha princípios e padrões de desenho que nos convidam a retomar a economia informal doméstica, a reformar as casas com princípios ecológicos, a tomar os espaços públicos para produção de alimentos e principalmente a ser um mestre em uma atividade, mas um bom generalista de várias. A maneira centralizada como a grande maioria dos Estados respondeu a crise sanitária favorecendo o poder e a concentração de renda das corporações sobre o bem estar e resiliência das pessoas, segundo David, foi outra confirmação de que vivemos no Brown Tech.

Dois dos argumentos centrais do livro, bastante realistas na minha opinião, são que: a) não veremos ações centralizadas, implementadas de cima para baixo pelos Estados, capazes de assegurar a dignidade, saúde e qualidade de vida das pessoas na medida em que as mudanças climáticas e a escassez energética se tornam ainda mais fortes e b) que portanto aquelas pessoas inovadoras que conseguirem se viabilizar por meio de renda diversificada, uma economia doméstica informal, a participação ativa na construção de uma rede de amparo comunitário local e a adoção de hábitos e reformas ecológicas em suas vidas e moradias são de suma importância para desenvolver os exemplos necessários (que inevitavelmente serão copiados quando a crise jogar a maioria no desespero).

Um outro argumento do livro é que não precisamos de um ponto de virada com a maioria praticando esses princípios e padrões, mas que com 20 a 30% da sociedade já conseguiríamos criar a resiliência necessária e as estruturas paralelas que ampararão a grande maioria depois. Esse, principalmente depois de testemunhar como a grande mídia hipnotizou a grande maioria da população durante a última crise sanitária, eu não estou muito certo.

Outro impedimento para a adoção voluntária e precoce desses princípios por um número significativo de pessoas é a maneira como a contra-inteligência corporativa tem espalhado narrativas que negam as mudanças climáticas e o declínio energético e convencem as pessoas a seguir como se nosso impacto no planeta fosse algo irrelevante (mesmo que as mudanças climáticas fossem uma mentira). “Em um futuro próximo”, David diz, “ainda dentro do cenário Brown Tech, as grandes indústrias vão tomar ainda mais dos recursos da sociedade, o que é na verdade um sinal do declínio energértico. Um indústria ainda maior em termos de energia, significa menos energia disponível para a sociedade fazer tudo o que precisa”.

Eu, por outro lado, vendo toda a estratégia e esforço coordenado das corporações para controlar cada vez mais as pessoas com passaportes sanitários, moedas digitais e cidades prisão, acredito que a escassez energética avança rápido.

Abaixo, posto podcast Permacultura, Colapso e Resiliência, que gravei com o David em 2019 onde abordamos o livro e sua adaptação para o contexto brasileiro, com demografia e economia bem diferentes da Austrália.

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