A farra do imbecil e o aplauso dos idiotas – por Sara Amargo

A política ambiental atrapalha o desenvolvimento. Essa é uma das máximas do atual presidente, repetida incansavelmente pelo seu fiel escudeiro, ruralista e candidato a deputado não eleito. Com o foco da campanha na matança de javalis e de sem-terra, condenado por improbidade administrativa, foi este o alçado à pasta de chefe maior da pasta ambiental no governo da imbecilidade.

Em 8 de maio de 2019, ex-ministros do meio ambiente das últimas três décadas, com todas as diferenças históricas e ideológicas dos governos que participaram, se reuniram e elaboraram uma carta apontando a preocupação com o desmonte deliberado da agenda socioambiental. No mundo inteiro, o caminho da modernidade e do desenvolvimento tem se dado cada vez mais de forma integrada com políticas socioambientais. E é isso que tem acontecido também no Brasil – em uma velocidade com certeza bem menor do que deveria – mas sempre em um caminho ascendente.

Nas últimas décadas (e isso é fato, não promessa), evoluiu-se muito em termos de instrumentos de análise e de avaliação de impactos ambientais, na fiscalização de crimes ambientais, na adequação do licenciamento ambiental, nas políticas ambientais urbanas, na busca de energia limpa, no ordenamento territorial, na criação e gestão de Unidades de Conservação, na inclusão social em práticas produtivas sustentáveis, nos instrumentos de participação social na elaboração de políticas ambientais, na educação socioambiental, na pesquisa e geração de tecnologias ecoeficientes, na estruturação das instituições responsáveis pela agenda e na adequação de instrumentos legais, protagonizando o Brasil no cenário mundial. Diga-se de passagem, em conjunto com um forte crescimento da economia, na maior parte dos anos deste milênio. E não poderia deixar de ser, considerando que somos o país mais megadiverso do mundo. 

Negligenciar a relação entre conservação e desenvolvimento pode ser útil aos EUA, que detém, em todo o país, um número de espécies de árvores menor do que na área de um campo de futebol na Bahia. Mas esta negligência é uma imbecilidade completa por aqui. E é isso que se está a fazer, com o aplauso de terraplanistas e crentes do marxismo da Revolução Francesa ou do nazismo de esquerda, que acham que tudo isso é coisa de comunista e que comunistas seguem a comer criancinhas pelo mundo e, além disso, dominaram os órgãos de Estado no Brasil, prestes a fazer uma revolução cubana. E, infelizmente, são muitos os aplausos.

O sempre atento ruralista não tardou a responder a carta dos ex-ministros, a qual com certeza deve estar agora já cheia dos mesmos aplausos. Afinal, idiota que é idiota sempre aplaude seus mitos, seja lá qual for a ideia que saia de suas bocas.

Com a imbecilidade digna de quem é condenado por improbidade administrativa, de quem se negou a receber as informações da gestão anterior do Ministério do Meio Ambiente, de quem acha que descobriu a roda quando propõe inovações de gestão que já existem há décadas e de quem não sabe sequer quem foi Chico Mendes, porém com a sagacidade de quem serve eficientemente a interesses de poucos, a resposta enaltece a necessidade de modernidade administrativa, mente descaradamente sobre o sucateamento das Unidades de Conservação, despreza a participação social no maior espaço de discussão e deliberação de políticas ambientais no Brasil – o CONAMA, reitera a “farra” de ONGs que se envolvem como terceiro setor na implementação de políticas ambientais (como prevê, aliás, a Constituição), chama a busca do escancaramento do desmatamento nas áreas de reserva legal de resolução de conflitos e fica surpreso que a palavra governança “tenha entrado na seara do vocabulário ambiental”, sem a mínima noção de quanto ela já fazia parte desta seara quando ele ainda estava na escola. 

Todos têm direito de ser imbecis, mas fazer isso desmontando uma construção social gradativa de décadas – fundamental para a economia – e colocando em risco o futuro do Brasil (e do planeta como conhecemos), em nome de um falso discurso de modernidade, é um completo absurdo. 
Mais absurdo ainda é o aplauso dos idiotas.

Nota: O portal de artigos, assim como a agenda de entrevistas dos podcasts estão à disposição de autores e ativistas que queiram compartilhar suas idéias, ações e projetos de impacto positivo para o meio ambiente nesse momento delicado da História Brasileira. Esse trabalho é fundamental uma vez o governo atual desenrola um plano articulado de desmonte de todos os dispositivos legais e institucionais que possam defender o meio ambiente da degradação causada pelo agronegócio, pelas mineradoras, madereiras e corporações petroquímicas .

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