Energias renováveis criam comunidades resilientes e combatem o aquecimento global

No último dia 5 de novembro de 2016 Dr. Doone Wyborn ministrou uma oficina sobre Pico do Petróleo, Aquecimento Global e Energias Apropriadas na Holos: Escola de Desenho Regenerativo (NSW, Austrália). O Dr. Doone tem uma vida dedicada à pesquisa de energias renováveis, foi líder na pesquisa de energia geotérmica na Austrália e fundou Bindarrabi, uma EcoVila de 800 acres que fornece habitações a preços acessíveis para as pessoas que querem se preparar para um futuro de declínio energético usando a Permacultura. A EcoVila fica ao lado do Parque Nacional Koreelah no estado da Nova Gales do Sul. A parte prática da oficina encorajou as pessoas a usar a energia solar para o máximo de funções possível. Entretanto as aulas do Dr Doone foram ao mesmo tempo alarmantes e inspiradoras. Com informações precisas sobre como o pico do petróleo, a crise financeira mundial e o aquecimento global estão causando mudanças sociais e ambientais irreversíveis Dr. Doone deixou todos instigados a agir.

Pico do Petróleo
Baseados quase que exclusivamente nas projeções do geológo e geofísico Americano Marion. King Huppert (link em inglês), muitos outros cientistas e ambientalistas vem nos avisando da crescente escassez do petróleo ou pico do petróleo, como o fenômeno é conhecido. O Dr. Doone apresentou o trabalho de King Huppert e compartilhou como outros cientistas e pensadores proeminentes vem usando suas projeções desde 1950 para entender o fenômeno do pico do petróleo. Huppert estimou que se as tendências de consumo e crescimento continuassem a produção mundial do petróleo atingiria um pico em 1994, depois do qual toda produção começaria a cair drasticamente. Mas o fato é que o petróleo continua a ser a mola motriz das nossas economias. A produção e distribuição industrial de alimento é toda baseada no uso do petróleo. É o combustível derivado de petróleo que move os tratores para arar a terra, as plantadeiras e colheitadeiras. O fertilizantes químicos, os pesticidas e os herbicidas também são todos derivados do petróleo. E são os combustíveis fósseis que apoiam os padrões de mobilidade global que temos hoje. A produção de petróleo convencional, que requer menos energia para sua extração, atingiu pico de produção em 2005, só 3 anos antes da Crise Financeira de 2008. A maioria do petróleo não convencional como o extraído do óleo de xisto (betumen), das areias asfálticas (Tar Sands) e das plataformas de extração marítimas tem um retorno energético muito baixo para manter as economias ocidentais.

Em 1972 o MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts – lançou um relatório (também editado em forma de livro) chamado Os Limites do Crescimento. Esse relatório se baseou em uma simulação computadorizada de crescimento economico e populacional exponencial com suprimento recursos finitos. A maior parte das projeções do relatório no que diz respeito ao esgotamento de recursos se mostrou bem precisa e estamos agora, de fato, entrando em uma era de declínio energético como compartilhou o Dr. Doone.

Dívida
Para manter os negócios como de costume ou, em outras palavras, para mantermos uma economia que demanda crescimento infinito em um planeta com recursos limitados, os governos mundo afora adotaram a Moeda Fiduciária (FIAT Money) e tem imprimido bilhões de dólares todo ano sem nenhum valor real como garantia. É com dinheiro impresso sem garantia de valor real que os governos tem subsidiado a extração de petróleo, carvão mineral, gás natural e minérios, assim como outras corporações. Também é com esse dinheiro que o governo tem aberto linhas de crédito para população para manter o crescimento econômico estável. O estado atual das dívidas pessoais, corporativas e estatais, entretanto, já não é mais sustentável e já começamos a testemunhar crises econômicas baseadas na escassez de recursos materiais e revoltas em vários países. Dr. Doone explicou que a crise financeira de 2008 foi só a ponta do Iceberg que desencadeou uma crise global que ainda está desenrolando de maneiras e intensidade diferente em vários países do mundo.

Aquecimento Global
A falsa sensação de separação que a maioria das pessoas tem da natureza hoje em dia associada com a propaganda corporativa e estatal tem nos mantido cegos para a gravidade de nossa situação. Nós gerimos a maior parte de nossas sociedades como se a enorme quantidade de energia que precisamos para mantê-las fosse infinita. Nós vivemos nossas vidas em um frenesi energético que rouba milhares de anos de energia solar presa na crosta do planeta Terra privando nossos filhos e netos da sua cote de direito para se prepararem para um futuro de declínio energético. O aquecimento global e a extinção em massa que vivemos no momento são consequências diretas da nossa desconexão com a natureza e da negação do impacto que nossos estilos de vida tem no planeta. Como Dr. Doone mencionou em sua palestra, com um aumento de apenas 1°C na temperatura do planeta nós já estamos vendo catástrofes enormes e irreversíveis como a morte da Grande Barreira de Corais na Austrália, a perda do gelo Ártico e o derretimento das geleiras causando aumento do nível do mar.

É certo que essas mudanças climáticas terão um impacto ainda maior no futuro, assim como elas agravarão ainda mais a atual extinção em massa iniciada por nosso estilo de vida inconsequente. Outra certeza é que também vamos sofrer mais com eventos climáticos extremos como tempestades e furacões. Algumas regiões terão seu clima alterado e oscilarão entre secas e enxurradas. Ainda assim o Acordo de Paris, assinado no dia 22 de Abril de 2016, foi bastante ardiloso dizendo que os 193 países que participam do acordo “fariam seu melhor para manter o aquecimento global abaixo de 2°C”.  Esse é um compromisso ardiloso porque com um acréscimo de apenas 1°C na temperatura do planeta nós já estamos testemunhando a maior extinção em massa causada pelos humanos. Também é ardiloso no sentido de que não houve nenhum acordo sobre como os países participantes manteriam o aumento da temperatura abaixo de 2°C, muito menos quais seriam as consequências para os países que infringirem o acordo mesmo tendo feito seu melhor.

Para a maioria das pessoas é um choque tomar conhecimento de todos esses fatos apresentados pelo Dr. Doone. Para alguns é perturbador pensar em como seus filhos e netos viverão nesse planeta. A pergunta da maioria das pessoas é “quanto tempo ainda temos para fazer alguma coisa? Para nos prepararmos?”. Muito embora a maioria das pessoas nos países ricos ainda estejam em posição de ‘fazer alguma coisa’, é exatamente essa desigualdade na capacidade de consumir os recursos naturais do planeta que tem causado os problemas atuais. A realidade é que precisamos distinguir entre desejos e necessidades e começar a agir imediatamente para suprir nossas necessidades em harmonia com a natureza.

Dr. Doone compartilhou algumas idéias sobre o que podemos fazer para mitigar nosso impacto na economia e no planeta. Sobre como podemos agir diante de informações tão perturbadoras, Dr. Doone disse que é importantíssimo começarmos a produzir mais das nossas necessidades em termos de energia, alimento, água e resíduos de forma descentralizada onde quer que estejamos.

Nós precisamos nos tornar responsáveis pelo nosso impacto no planeta Terra. Embora cada um de nós tenha um impacto pequeno, nós podemos começar dando exemplos em nossas próprias vidas e eventualmente atingir uma massa crítica de pessoas fazendo o mesmo. E essa é a única maneira de gerar mudança é nos tornarmos essa mudança (Dr. Doone Wyborn).

Outra consideração importante de acordo com o Dr. Doone é a relocalização. Ou seja, encontrarmos um lugar onde a geografia, o solo, o acesso a água e o contexto sócio-cultural possam minimizar os impactos do aquecimento global. O Dr. avisa que é

Importante vivermos nossas vidas de forma a minimizarmos nosso impacto. Embora pareça egoista considerar nossas próprias necessidades em primeiro plano, essa é a condição natural de toda vida orgânica. A pergunta é como você pode reduzir seu impacto e ainda levar uma vida feliz? (Dr. Doone Wyborn)

Uma abordagem tão completa para o movimento de relocalização pode não estar ao alcance de todos. Ainda assim há muito o que fazer nas cidades e suburbios de classe média para construirmos comunidades resilientes. A mudança mais importante que podemos fazer é em nossa própria atitude. Nós precisamos nos tornar responsáveis por nossas necessidades.

Talvez você decida que não se justifica mais morar na cidade ou que você pode atingir níveis de auto-suficiencia alimentar, hídrica e energética vivendo em uma casa com quintal grande. Seja o exemplo e outras pessoas o seguirão. (Dr. Doone Wyborn)

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