Grande parte dessas pessoas que negam o aquecimento global, não está interessada de verdade em mitigar o aquecimento global. O que elas querem é manter seus privilégios até o final, mesmo que isso acarrete a extinção de todos.
Tradução livre, Eurico Vianna, PhD.
O texto que segue é uma tradução livre de um artigo do Professor Eméritos da Universidade do Arizona, Dr. Guy C. McPherson em seu website no dia 17 de novembro de 2018. Suas áreas de pesquisa e ensino por décadas foram Recursos Naturais, Biologia Evolutiva e Ecologia. Desde 2009 quando Guy começou a anunciar que os resultados de suas pesquisas apontavam para um aquecimento global repentino com a subsequente extinção em massa da vida no planeta, ele passou a viver em um sítio e a dedicar seu tempo para difundir suas descobertas.
Guy, que é atacado no nível pessoal por alguns críticos, ainda não recebeu críticas consistentes sobre as fontes usadas, os dados e os resultados publicados. Ou seja, para alguns é mais fácil denigrir o mensageiro do que encarar a realidade da mensagem.
De fato vivemos em tempos estranhos. Enquanto alguns declaram “não acreditar” em aquecimento global, centenas de cientistas sérios ao redor do mundo já discutem a possibilidade de que ele seja repentino e devastador. Grande parte dessas pessoas que negam o aquecimento global, não está interessada de verdade em mitigar o aquecimento global. O que elas querem é manter seus privilégios até o final, mesmo que isso acarrete a extinção de todos.
Esse é o exemplo do presidente estadunidense Donald Trump, que diz “não acreditar” em aquecimento global. Quando na verdade suas declarações são movidas por interesses financeiros. Sua administração acaba de tentar abafar o relatório sobre os perigosos impactos do aquecimento global para o seu país lançando o relatório durante a Black Friday (dia em que a maioria dos cidadãos estadunidenses vãs as compras para aproveitar os descontos da data). O relatório, assinado por mais de 300 cientistas e repleto de pesquisas revisadas por especialistas, diz que:
Já no Brasil, o atual governo ilegítimo de Michel Temer, que é suspeito de ter recebido propina da construtora Oderbrecht, mas que recebeu imunidade parlamentar, retirou a candidatura do país para sediar a COP-25 em 2019. O presidente eleito Bolsonaro, avisou durante campanha, em 2017, que em seu governo não haverá “nem um centímetro [de terra] para quilombola ou reserva indígena”. Ele também defende a exploração econômica de terras indígenas e avisou que vai limitar o poder de fiscalização do IBAMA e ICMBIO. Essas medidas já teriam grande impacto ambiental, por uma série de razões: a) é sabido que a preservação ambiental tem muito mais sucesso em terras indígenas e quilombolas, por conta do paradigma cultural vivido por essas comunidades; b) são exatamente essas comunidades que podem nos ensinar como viver mais harmoniosamente com Gaia, e não o contrário; c) é sabido que tanto o ICMBIO quanto o IBAMA, apesar de muita dedicação, não tem recursos humanos suficientes para monitorar a devastação criminosa que acontece por todo o pais.
Para piorar ainda mais a questão ambiental, o presidente eleito já anunciou a representante das empresas de agrotóxicos no congresso, Teresa Cristina, para o Ministério da Agricultura e o presidente da União Democrática Ruralista, Nabhan Garcia, para a secretaria de assuntos fundiários. Todo esse quadro absurdo, coloca o Brasil no liderança do retrocesso mundial sobre as questões ambientais e climáticas.
Tanto Trump, como Bolsonaro, são exemplos claros do tipo de ser humano que, para manter seus privilégios, são capazes de comprometer o futuro de todos no planeta.
Mas enquanto para alguns a notícia de que pode ser tarde demais para mitigar os impactos devastadores de um aquecimento global repentino, para outros como eu, a notícia só reforça a missão de viver na plenitude a conexão com a natureza e de criar santuários de sanidade mental e ecológica, mesmo que só sejam eternos enquanto durarem (para parafrasear Vinícius)
Extinção prevista, Extinção Ignorada
Por Dr. Guy McPherson (17/11/2018)
Quando ameaçadas com a própria extinção, grande parte das linhagens, humanas ou não, não fazem nada espcial para evitá-la.
~ George C. Williams
O cientista Americano da biologia evolutiva C. Williams morreu em setembro de 2010 aos 83 anos de idade. Eu duvido que ele soubesse que estamos enfrentando nossa própria extinção eminente. Quando Williams morreu eu já vinha soando o alarme nessa área há 3 anos. E eu não estava sozinho. Os avisos mencionados nesse curto artigo não foram os primeiros sobre as catástrofes climáticas que provavelmente resultarão da queima de combustíveis fósseis.
Pouco tempo usando sua ferramenta de busca favorita na internet o levará a encontrar George Perkins Marsh soando o alarme em 1847, ao importante artigo de jornal escrito por Svente Arrhenius em 1896, às versões mais jovens de Al Gore, Carl Sagan e James Hansen testemunhando diante do congresso estadunidense na década de 1980. Existem muitos mais, claro, mas todos ignorados por pouco dinheiro em alguns poucos bolsos.
A projeção do ritmo gradual das mudanças climáticas, baseada no modelo do PIMC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) já ultrapassa 10.000 vezes a resposta adaptativa (capacidade de adaptação genética) dos animais vertebrados. Mais próximos dos Homo sapiens, os mamíferos não conseguem evoluir rápido o suficiente para escapar a crise de extinção em massa já em andamento. Os humanos são mamíferos vertebrados.
Acreditar que nossa espécie pode evitar a própria extinção mesmo quando outros mamíferos vertebrados desaparecem é a clássica soberba humana envolta em um manto quente de mitos baseados em supremacia humana. A evidência aponta para o fato de que os humanos se juntarão a aniquilação de toda a vida no planeta, como relatado no jornal científico de 13 de novembro de 2018 (https://www.nature.com/articles/s41598-018-35068-1). Afinal, os seres humanos estão vivos, embora uns mais que outros. O catastrófico derretimento descontrolado das plantas nucleares do mundo seriam suficientes, mas não necessárias, para extinção a curto prazo da vida na Terra. “Só” o aquecimento global repentino é necessário para extinguir toda a vida no planeta.
Qual foi a resposta a esses avisos durante a História? A mudança de parâmetros. Ignorar a quantidade enorme de trabalhos científicos. Jogar a cautela pela janela. A mídia corporativa, os governos e a maioria dos climatologistas continuam a aderir à meta de 2°C proposta pelo economista William Nordhaus em 1977 : “Se houvesse um aumento das temperaturas globais que ultrapassasse a atual temperatura média em torno de 2°C ou 3°C, isso levaria o clima para fora das variações observadas nas últimas centenas de milhares de anos.”
Sabemos mais sobre climatologia hoje que sabíamos em 1977. E cientistas verdadeiros sabiam, mesmo naquela época, que economistas não deveriam ser tratados como cientistas. Não é de se admirar que Nordhaus tenha sido laureado com um Prêmio Nobel em Economia baseado em motivações políticas no começo do ano. Não me surpreenderia se ele tivesse sido laureado com o Nobel da Paz se juntando ao time de especialistas em genocídio Henry Kissinger e Barack Obama.
Atualmente o planeta está 1.73°C acima do parâmetro estabelecido em 1750 no começo da Revolução Industrial. De acordo com um artigo científico publicado por James Hansen e colegas na Earth System Dynamics, essa temperatura média global é a mais alta desde o surgimento do Homo sapiens. Em outras palavras, nossa espécie nunca viveu em um planeta mais quente do que o que agora vive a atual crise de refugiados causada pelo desaparecimento do habitat para humanos. E nós nem chegamos ao limite de 2°C (sic) estipulado por Nordhaus. A resposta da abordagem convencional à crise, que se acelera cada vez mais e é conhecida como aquecimento global repentino é mudar os parâmetros do que é aceitável. Ao invés de admitir que o planeta está quase 2°C acima dos parâmetros de 1950, governos e muitos cientistas determinaram que o parâmetro na realidade é 1981-2010 ou mais. Aderir ao Princípio da Precaução obviamente está fora de moda.
Por décadas nós sabemos que a meta de 2°C , gravada em pedra por Nordhaus, é perigosa. De acordo com o chefe do Instituto Americano de Petróleo, nós já estávamos atrasados para lidar com gases de efeito estufa em 1965. Ao final de junho de 1989, Noel Brown, o diretor do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas em Nova York, disse que teríamos apenas até o ano 2000 para evitarmos um aquecimento global catastrófico. Cerca de 16 meses depois do aviso de Brown, em outubro de 1990, o Conselho das Nações Unidas para Gases de Efeito Estufa determinou o aumento máximo absoluto (da temperatura média do planeta) em 1°C. Em outubro de 2014 o climatólogo e autor David Spratt disse que 0.5°C seria o limite máximo (https://vimeo.com/63614114).
Provavelmente já era tarde demais para reverter o aquecimento global repentino e irreversível em 1977 quando Nordhaus compartilhou sua opnião genocida. Já era certamente tarde demais em 1989. E deixando de lado as palavras de conforto, nós não fizemos nada para prevenir nossa extinção desde que os avisos, perto ou longe, começaram a aparecer.
Em outubro de 2018 o PIMC da ONU indicou que temos até 2030 para evitarmos que as temperaturas médias globais aumentem 1.5°C acima dos parâmetros que não param de ser flexibilizados. Sim, é isso mesmo. A ONU está recomendando uma temperatura média bem abaixo da temperatura atual como ‘alvo’. Mas fica pior, claro. O Secretário Geral da ONU António Guterres diz que temos até 2020 para virar o jogo. Até agora a única forma pela qual nós humanos podemos mudar as temperatura média global, para cima ou para baixo, é a redução da atividade industrial, o que alivia o efeito da camada de aerossóis e, portanto, leva rapidamente a temperatura média global a níveis ainda mais altos. Mas se estamos interessados em manter o habitat para vertebrados e mamíferos no planeta, essa não é a direção que queremos que a temperatura tome. A perda da camada de aerossóis significa a perda de habitat para os humanos e a nossa extinção em seguida.
O cenário fica inimaginavelmente pior a cada dia, claro. As últimas informações publicadas em jornais científicos finalmente concordou comigo concluindo que a sexta maior extinção em massa (o Antropoceno) pode aniquilar toda vida na Terra (https://www.sbs.com.au/news/climate-change-may-cause-mass-extinctions-new-report-shows). Um artigo científico publicado na Science Reports chega nessa conclusão baseado no ritmo das mudanças ambientais, o que consiste com minhas próprias conclusões. Como uma pessoa que ama a vida, minha satisfação com uma das fontes mais conservadoras é assoberbada pela tristeza da perda.
Colocando de forma simples, nosso destino como espécie está fadado. Nós estamos indo rumo a extinção rápida, mesmo tendo sido avisados por mais 150 anos. É um conto trágico. E como foi dito pelo cientista da biologia evolutiva George C. Williams, nossa espécie mal fez um gemido quando o martelo bateu.