Em uma mistura de dor, ira, nojo e desespero tenho lido, assistido e escutado notícias sobre a fome desde domingo, dia 04/04/21.
Eu compartilho abaixo a curadoria das notícias, mas faço aqui um apelo no sentido de desenvolvermos um pensamento crítico, ecológico e sistêmico! Não é nem uma questão de espectro ideológico à direita ou à esquerda, é uma questão física – de entendermos termodinâmica e ecologia!
De fato, como diz a Rita Von Hunty, “não existe solução individual para problemas sociais”!
De fato, a reforma agrária e a agroecologia são emergências importantíssimas para a construção de um futuro em que escapemos a extinção em massa!
Mas também não encontraremos soluções tecnológicas, reducionistas para problemas complexos nos âmbitos sociais, ambientais e econômicos em que vivemos.
Pouquíssimas notícias abordam o papel central que uma produção primária regenerativa pode ter em captar mais luz solar, em regenerar o ciclo hidrológico, em ciclar mais nutrientes e cobrir o solo e em favorecer a biodiversidade.
E como esses processos ecológicos são indissociáveis, como sem eles não há como sustentarmos a vida, o agronegócio não pode sustentar nenhuma economia.
Pouquíssimas notícias veem ou comentam a inseparabilidade e a magnitude da complexidade que se forma quando pensamos em sociedades e economias nocivas incrustadas em ecossistemas moribundos.
Nenhuma notícia que comentou a fome, criticou a densidade populacional das cidades, a poluição ali gerada, a insanidade ali vivida e as injustiças ali perpetradas pelas elites e sua ideologia. Nenhum reporter lembra Lutzemberger avisando lá na década de 8o que “As cidades são ecossistemas artificiais.
Na verdade a lógica de praticamente todas as notícias continua sendo a pergunta “como o campo vai alimentar as cidades?”. Perpetuando assim a monetização do acesso ao alimento e a subjugação de tudo que há no campo à logica destrutiva das cidades.
Só voltando a ocupar o campo com uma cultura baseada em uma viabilidade econômica atrelada a regeneração da biocapacidade local, baseada na qualidade de vida para produtoras, na soberania para indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, teremos qualquer chance contra a extinção em massa.
Não é só “agroecologia ou colapso” como colocam os cientistas recomendados pela Rita no @temperodrag .
Precisamos de uma gestão verdadeiramente justa, regenerativa e viável que nos auxilie no planejamento do #êxodourbano e das várias transições que precisamos fazer para evitar a extinção em massa.
No rumo que estamos, porque já vivemos um colapso ecológico e econômico, continuaremos matando primeiro as mulheres negras, indígenas, pretos, pobres pardos e campesinos largados à míngua no campo, como mostram as estatísticas nas notícias que comento abaixo.
Precisamos viver em lugares com batatas, inhames e mandioca estocadas em um solo vivo. Com frutas, castanhas e madeira estocadas em sistemas agroflorestais saudáveis. Com carnes de peixe, frango, boi, porco, cordeiros, bodes, coelhos, preás, etc. vivas em volta da casa ou em latas com banha, em varais secando em cima do fogão à lenha ou preservadas no sal. Com queijos, coalhadas e conservas nas prateleiras. Com uma horta colorida e cheirosa na porta da cozinha.
Como diz a Ana Primavesi em seu livro Manejo Agroecológico do solo, até 1970 existia pobreza no Brasil, mas não tínhamos famintos.
A concentração de terra, poder e renda faz parte de um plano que só beneficia a elite. Mas é um plano estúpido, porque ao depletar a própria base de recursos que apoia a vida no planeta essa elite assassina grande parte da população primeiro, mas depois se suicida também.
Como diz o Allan Savory – Em última análise, a única riqueza que pode embasar qualquer comunidade, economia ou nação é derivada do processo fotossintético – plantas saudáveis crescendo em solos se regenerando.
Segue a curadoria comentada para vocês!
Podcast Café da Manhã – Porque o Brasil passa Fome – https://open.spotify.com/episode/5sHfj8k4jBRH1nDsKJcgaR?si=XY-gkB7ATaSec47xSa8UHQ&utm_source=whatsapp&nd=1
A frase que me marcou mais nesse podcast enviado pelo ativista e permacultor @Marco.Siqueira foi “O acesso ao alimento é monetizado”!
Mas ouvir gera dor, ira, nojo e desespero.
“A fome atingiu 19 milhões de brasileiros durante a crise de covid-19, e quase a metade das famílias têm algum grau de dificuldade para se alimentar. E isso não leva em conta o fim do auxílio emergencial, porque esses dados foram coletados nos últimos 3 meses do ano passado.
Com bolsa família e outros programas sociais a população pobre teve acesso a alimentos e o Brasil saiu do mapa da fome. Com a crise econômica e social intensificada por volta de 2016 a fome voltou com força. E como o acesso urbano ao alimento sempre foi monetizado a insegurança alimentar é pior nos centros urbanos.
Hoje, cerca de 27 milhões de pessoas sobrevivem em média com 246 reais por mês.
A reportagem denuncia o desmonte do PNAE, Programa nacional de Alimentação Escolar, um dos maiores do mundo. Dentro do PNAE, o PAA, Programa de Aquisição de Alimentos, prevê que a compra de 30% desses alimentos precisariam ser de agricultura familiar. Há um ano esse programa também vem sendo desmontado pelo governo atual e sua parceria com a bancada ruralista.
Um depoimento de uma educadora popular negra de Recife revela como o plano eugenista desse governo não deixa opção digna para desempregados nas periferias.
Gostaria de soltar o Paulo Guedes com R$250 no subúrbio de Recife por um mês e ver se ele sobrevive com o que recomenda para os outros
Tempero Drag (@temperodrag) – Agroecologia e Agricultura Familiar
“Não existe solução individual para problemas sociais” é a frase que marca nesse vídeo.
A Rita Von Hunty abre o primeiro de Abril, dia da mentira, com notícias absurdamente graves que ela gostaria que não fossem realidade, mas são. Vale muito a pena conferir! Em qualquer país de primeiro mundo europeu como a França, Espanha ou Alemãnha ou mesmo Chile ou Argentina na América Latina, por exemplo, as pessoas estariam nas ruas paralisando e mudando o país com as próprias mãos.
Depois ela contextualiza uma discussão muito interessante sobre “Emergência, importância e um futuro” e ela defende, citando alguns autores e o movimento ecossocialista, que entramos em uma época em que ou adotamos o Eco-socialismo ou entramos em extinção. Muito embora já estejamos no antropoceno – a era geológica marcada pela sexta maior extinção em massa.
Nesse sentido, ela argumenta, que agroecologia e a reforma agrária são medidas urgentes e importantes que podem construir um futuro viável para a população.
Ela ressalta muito bem o papel negativo do agronegócio na história brasileira impedindo, desde 1500 a reforma agrária.
Acho que do vídeo da Rita vale ressaltar os seguintes dados:
O Brasil usa 500 mil toneladas de agrotóxicos todos os anos.
Isso soma um gasto de 35 bilhões de Reais! Ou vendo de outra forma, o Brasil sozinho usa 20% de todos os agrotóxicos produzidos no mundo.
Nesse sentido, eu vejo como os objetivos sustentáveis da ONU são ridículos! Um deles é diminuir pela metade o uso de agrotóxicos em 10 anos. Mataremos só a metade das pessoas com câncer. Poluiremos só a metade das águas… e enquanto a lógica econômica for a dominante, matar e poluir menos desde que mantenhamos a economia será válida. Quando na verdade, deveríamos enxergarmos e sentirmos a insanidade que é usar agrotóxicos em qualquer quantia uma vez que sentenciam à morte toda a vida do planeta.
Ela alerta ainda que em função dessa concentração de renda, poder e terras, o agronegócio brasileiro é o que mais mata ativistas ambientais no mundo!
Ela deixa vários links úteis para que a gente possa agir apoiando grupos e projetos já em andamento tanto no campo como na cidade.
Os alertas de Allan Savory (@asavory2018) sobre a falta de pensamento ecológico sistêmico.
O Allan compartilhou um artigo do Washington Post sobre como as emissões de CO2 chegaram a um nível crítico já quase dobrando os níveis pré-industriais.
Segundo Allan a maioria dos jornais são responsáveis pela nossa morosidade no combate às mudanças climáticas porque ficam repetindo crenças como papagaios sem nunca questionar ou avaliar criticamente relatórios e notícias.
A matéria aponta a produção de energia elétrica, os transportes e a indústria como os setores que mais poluem, mas não questionam a desertificação global e os solos destruídos pela agricultura. Assim como não questionam as gigantes queimadas anuais em todo planeta, também ligadas à agricultura.
Segundo ele, quando queimamos um hectare de pastagens emitimos mais poluentes mais danosos que a emissão de 6 mil carros. Só no continente africano ele aponta que queimamos mais de 1 bilhão de hectares. No Brasil são 11,700,000 (onze milhões e 700 mil hectares) todo ano.
Allan explica que a mídia continua repetindo relatórios sobre os riscos da emissão de metano pela pecuária sem nunca avaliar que até o advento da agricultura e pecuária industriais, durante milhões de anos os grandes herbívoros selvagens e domésticos nunca foram um problema.
Deixo aqui os links para o artigo no Washington Post e os comentários do Allan no Facebook:
https://www.facebook.com/allan.savory
Nesse sentido, da discussão climática, o companheiro Dr. Sérgio Loyola, que toca comigo a página do podcast Impacto Positivo no FaceBook, compartilhou um artigo da DW, portal de notícias alemão, perguntando a uma dezena de especialistas, de setores indo desde entomologia, oceanografia e climatologia até pesquisa do permafrost, o que mais lhes tira o sono quando o assunto é clima.
Surpresa? Não! Segundo a maioria dos cientistas a maior incógnita é o ser humano. Uma das cientístas, a Ama Klutse do Gana lança a pergunta: “O que você pode fazer, enquanto indivíduo, para evitar o impacto da mudança climática?” E segue dizendo que “São necessárias políticas governamentais no sentido da resiliência urbana, construir para a comunidade. Aí precisamos daquela ação global.”
Hoje, quarta-feira dia 07/04/21 vou fazer uma interação ao vivo pelo YouTube e Instragram para compartilhar e comentar essas notícias.
Peço a todos que compartilhem o conteúdo tanto do Youtube quanto do Instagram facilitando a circulação destas reflexões.