A indústria dos combustíveis fósseis traz uma quantidade de dinheiro desconcertante para vários países ao redor do mundo, mas isso não quer dizer que ela durará para sempre. Um novo e importante estudo prevê que a demanda global por combustíveis fósseis vai despencar em um futuro próximo causando uma “bolha de carbono” 16 vezes maior do que a que causou a crise financeira de 2008.
Nota: Nas últimas semanas eu venho compartilhando artigos sobre sobre como a greve dos caminhoneiros está relacionada com a crise financeira, o pico do petróleo e o aquecimento global. Para a maioria das pessoas, esses assuntos são desagradáveis porque indicam uma sociedade em colapso e esclarecem que a narrativa linear de crescimento constante criada durante o frenezi energético da era industrial não é possível. Nesse momento, mesmo as pessoas que costumam fazer uso da ciência para nortear suas decisões e senso crítico, apelam para o tecno-fix; aquela crença, sem evidencias, de que de alguma forma os avanços tecnológicos nos permitirão resolver ao mesmo tempo o problema da dependência do petróleo e do impacto ambiental causado pelo nosso estilo de vida. As razões pelas quais o tecno-fix é visto como ‘crença’ por vários cientistas foram explicadas nesse artigo do Dr. Ted Trainer. Em outro artigo que traduzi do Dr. Trainer, ele também explica, por meio de uma auditoria energética, porque não é possível manter a sociedade de consumo, menos ainda seu crescimento, substituindo os combustíveis fósseis pelas energias renováveis.
Embora o artigo que segue não se alinhe completamente com o pensamento do Dr. Trainer, ele corrobora as premissas que apresentei no artigo Os Caminhoneiros, a Dívida Pública e o Aquecimento Global. A linha de raciocínio que adotei lá e que se confirma aqui, mostra que os combustíveis fósseis são hoje o último lastro material/real da moeda fiduciária contra o qual toda a economia de especulação financeira tem se baseado; que por sua vez por conta do Pico do Petróleo e da subsequente queda nas margens de lucro, está para quebrar.
Se prepare para catástrofe financeira global.
(Artigo de Carly Cassella e tradução livre de Eurico Vianna)
A indústria dos combustíveis fósseis traz uma quantidade de dinheiro desconcertante para vários países ao redor do mundo, mas isso não quer dizer que ela durará para sempre.
Um novo e importante estudo prevê que a demanda global por combustíveis fósseis vai despencar em um futuro próximo causando uma “bolha de carbono” 16 vezes maior do que a que causou a crise financeira de 2008.
A pesquisa revela que a transição global para uma realidade que se distancia dos combustíveis fósseis provavelmente é inevitável mesmo que os países mais ricos não adotem políticas que promovam as energias renováveis.
O estudo é um tapa de luva de pelica na cara líderes como o presidente Trump que promete resgatar a indústria decadente do carvão mineral em detrimento das energias renováveis.
“Nossa análise indica que ao contrário das expectativas dos investidores, o encalhe dos espólios da indústria do petróleo podem vir a acontecer mesmo sem as políticas climáticas” diz o coautor e chefe do departamente de Políticas do Direito Ambiental da Universidade de Cambridge, Jorge Viñuales.
“Isso indica que uma ‘bolha de carbno’ está se formando e é provável que estoure”.
A indústria dos combustíveis fósseis vale tanto que para a maioria das pessoas chega a ser quase impossível compreender.
Existem hoje quase 1.500 empresas de petróleo e gás listados no mercado de ações pelo mundo. Juntas essas empresas valem a soma grintante de U$4.65 trilhões. Só Exxon Mobil vale U$425 bilhões.
Usando simulações detalhadas baseadas no histórico econômico e nos dados ambientais um time internacional de pesquisadores mostrou o q ue pode acontecer se esse tapete financeiro for puxado debaixo dos nossos pés.
A pesquisa revela que se continuarmos na trajetória atual, a indústria dos combustíveis fósseis será forçada a abandonar vastas reservas de combustíveis fósseis em algum momento antes do ano de 2035.
No geral isso implica um prejuízo entre U$1 e U$4 trilhões só em ativos de combustíveis fósseis, que por sua vez disparariam um prejuízo de U$0.25 trilhões.
Viñuales diz que “individualmente as nações não podem evitar a situação ignorando o Acordo de Paris ou enterrando suas cabeças nas areias betuminosas ou carvão mineral”.
“Por muito tempo a política climática global tem sido um jogo do ‘dilema dos prisioneiros’, onde algumas nações podem se dar ao luxo de não fazer nada enquanto pegam carona nos esforços de outras [nações]. Os resultados de nossa pesquisa mostram que isso não é possível mais”.
Os resultados da pesquisa deveriam disparar os alarmes para os grandes exportadores de carbono como os EUA, a Rússia e o Canadá. Os pesquisadores já avisaram que se esses países continuarem a inflar suas indústrias de combustíveis fósseis enquanto negligenciam as alternativas ‘verdes’, eles sofrerão prejuízos financeiros severos no futuro.
Esses resultados vem um ano após a administração do presidente Trump anunciar sua decisão de retirar os EUA do acordo de Paris, que procura conter as emissões de gases de efeito estufa para manter o aquecimento global abaixo de 2°C.
Esse mês o presidente Trump anunciou que sua administração tomará medidas para recuperar as decadentes usinas nucleares e de carvão mineral estadunidenses.
Entretanto, as políticas do presidente Trump não são uma novidade. Ainda hoje os EUA continuam a subsidiar, com U$27 bilhões, a produção e consumo de combustíveis fósseis todo ano. São os maiores subsídios entre todos os países industrializados de acordo com relatório recente do NRDC – Conselho Nacional da Defesa dos Recursos.
Mas se os EUA não começarem a reduzir os investimentos em combustíveis fósseis e rapidamente, os custos financeiros serão drásticos. O estudo sugere que se a demanda por combustíveis fósseis cair e as metas do Acordo de Paris alcançadas, um prejuízo inicial de U$4 trilhões em ativos dessa indústria serão perdidos completamente.
O déficit não será nada menos que uma catástrofe financeira que causará o desemprego em massa e tumulto político. A preocupação dos autores do estudo é de que o tumulto político subsequente gerem políticas ainda mais populistas – o que já tem acontecido nos EUA, Inglaterra e Europa.
“Se realmente queremos desarmar essa bomba-relógio na economia global, nós precisamos agir rápida, mas cautelosamente” disse o coautor Hector Pollitt da cadeira de Econometria da Universidade de Cambridge.
“A bolha de carbono precisa ser esvaziada antes que fique muito grande, mas os avanços precisam ser gerenciados cautelosamente”.
Os pesquisadores acreditam que caso a bolha estoure de fato a China será o país que mais se beneficiará.
“A China já é líder mundial em tecnologias de energias renováveis e já fazem uso delas dentro do país para mitigar os perigosos níveis de poluição” disse Viñuales.
“Além disso, o encalhe poderia cobrar um pedágio ainda maior para alguns dos principais competidores geopolíticos. A China tem razões fortes para promover a implementação de políticas climáticas”.
A pesquisa sugere que se os EUA não começarem a cortar os investimentos em combustíveis fósseis a China liderará o caminho nos mercados de energia futuros.
A pesquisa foi publicada na Nature Climate Change.