Para minha pesquisa de doutoramento eu estudei o papel das práticas culturais no desenvolvimento comunitário. Dentre outros conceitos presentes no desenvolvimento comunitário eu tenho um interesse especial pela ‘inclusão social’. Implicito nesse conceito E obviamente quando promovemos a ‘inclusão’ incluímos alguém para
O filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman observa que ‘os homens e mulheres dos tempos atuais vivem assombrados pelo fantasma da exclusão’ (2004: 46-47). Uma observação importante para os as pessoas que se envolvem em práticas regenerativas como a permacultura, a agricultura sintrópica, a agroecologia etc. Isso porque parte do que move essas pessoas é o sentido de propósito e de pertença, sentimentos raramente presentes no estilo de vida criado pela sociedade de consumo.
O processo de globalização neoliberal em sua agenda hegemônica geralmente incute práticas e ideologias altamente competitivas. Essas práticas e ideologias tendem a resumir o objetivo da vida humana a uma mera engrenagem em um sistema que prega o crescimento econômico constante em um planeta com recursos limitados. O resultado desse contexto é a ruptura dos tecidos sociais e a falta de um sentimento de pertença a uma localidade específica. O primeiro se dá pela ideologia de competição extremada e pela exclusão social trazida pela ideologia materialista da sociedade de consumo. Já a falta de pertença se dá pela agenda propagandista da globalização neoliberal que promove um mundo multicultural sem fronteiras apenas para favorecer a mobilidade do capital e não das pessoas.
Dessa forma os movimentos ou práticas sócio-ambientais passam, segundo Bauman, a tomar para si tarefas e deveres que foram sendo abandonados por estado social em constante retirada. Esses movimentos podem passar a exercer o papel de congregações e a oferecer um ingrediente dolorosamente ausente para uma vida humana decente e que é recusado à população pela sociedade em geral: um sentido de propósito de vida (ou morte). Nesse contexto, ‘nascer de novo’ ou recomeçar uma vida dentro desses movimentos aconchegantes e que se assemelham a famílias é uma tentação difícil de resistir, alerta Bauman (2004: 87).
O problema dessa ‘tentação’ é a criação de identidades culturais baseadas em grupos ou comunidades fechadas que se negam a engajar com problemas que surgem das diferenças (Hall, 1993: 360). Na minha tese de doutoramento eu chamei esse fenômeno descrito por Bauman e Hall de ‘paradigma da primeira inclusão’ (Vianna, 2018: 170). Uma situação onde a participação, a identidade e sentimento de pertença a esses grupos, movimentos ou práticas promove uma inclusão em um primeiro momento e, posteriormente, uma separação. Esse paradigma se caracteriza então pela dificuldade (ou recusa) de lidar com as diferenças culturais comuns em uma sociedade globalizada por conta da identidade cultural e sentimento de pertença e propósito desenvolvido em grupos ou movimentos fechados ou extremistas.
E por conta dos valores introjetada em todos nós pelo sistema vigente, nossa participação e pertença a um determinado grupo ou prática passa a ser definida em grande parte pela competição contra outros grupos ou práticas. São veganos contra onívoros, socialistas contra capitalistas, evangélicos contra umbandistas ou candomblecistas, etc. Também vemos esse fenômeno, talvez em menor escala, nas práticas regenerativas na forma de competição entre os adeptos de abordagens diferentes. Os permacultores que criticam a falta de planejamento dos agrofloresteiros… Agrofloresteiros que criticam a falta de viabilidade econômica ou de produtivivade nas propriedades planejadas com desenho permacultural… Agrofloresteiros que criticam os adeptos do gerenciamento holístico de pastagens, etc. etc.
Uma coisa é certa, o paradigma da primeira inclusão costuma se manifestar com mais frequência quanto mais as pessoas se valem de abordagens institucionalizadas. MENÇÃO DO VIDEO INST VS REDES > LIGA COM PARÁGRAFO ABAIXO EM INGLÊS
MORALISMO VS EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL E CATALIZAÇÃO DE MUDANÇA.
However, the paradigm of the first inclusion tends to happen more frequently when capoeristas rely almost exclusively on the institutionalised framework. When capoeristas focus on the historical lessons and game principles, they seem to overcome this problem. This is because while those adopting institutional frameworks tend to become highly competitive (as institutions often have expensive overheads and need to guarantee their survival in the first place), those guiding their actions, attitudes and projects by the historical lessons and game principles tend to adopt and develop collaborative frameworks that embrace diversity. I discuss these different approaches below.
‘the paradigm of the first inclusion’: the danger of cultural identities and a sense of belonging that refuses to engage with problems brought about by one’s exposure to diversity in globalised societies. The discussions in Chapters 3, 5 and 6 corroborates Hall’s concern about the evidence a
De fato a sociedade de consumo é movida por uma agenda de propaganda que incuti nas pessoas desejos cada vez mais insaciáveis por bens de consumo. Ou seja
One’s lack of social capital generally leads to social exclusion and consequently non-participation in social and political life (Putnam, 2000). Bauman and Vecchi (2004) observe that ‘men and women of our times are haunted by the spectre of exclusion’ (2004: 46-47; italics in original). This statement has significant implications for the practice and culture of Capoeira in contemporary times. Indeed, as seen earlier in this chapter, Capoeira groups – regardless of their orientation – do provide a sense of belonging and purpose, or solidarity and significance (Clark, 1973) to a community (for example, a neighbourhood or a social group) that are rarely present in our society today. But this comes at a cost, as more and more cultural practices, such as Capoeira, try to oppose the effects of globalisation from above (as discussed in Chapter 3) and compensate for the deterritorialisation it causes. In the case of Capoeira, the effects of globalisation from above are usually opposed by adopting approaches, attitudes and practices that are highly competitive (among capoeristas with the same orientation), diversity-intolerant (among different orientations) and/or based upon myths of purism. Bauman and Vecchi (2004: 47) explain that ‘these congregations pick up tasks and duties abandoned by the retreating social state. They also offer the most painfully missing ingredient of a decent human life, refused to them by society at large: a sense of purpose, of meaningful life (or meaningful death).’ In this sense, ‘being born again’ into a new warm and secure family-like home is a temptation they find hard to resist’ (2004: 87).
Hall (1993: 360) also warns about the risks of securing identities through the adoption of closed versions of culture or community that refuse to engage with problems arising from difference:
Since cultural diversity is, increasingly, the fate of the modern world, and ethnic absolutism a regressive feature of late-modernity, the greatest danger now arises from forms of national and cultural identity – new and old – which attempt to secure their identity by adopting closed versions of culture or community and by refusal to engage … with the difficult problems that arise from trying to live with difference.