Quase toda decisão humana causa consequências indesejadas para nós, nossas finanças e as espécies em nossos ecossistemas simultaneamente. Isso porque essas três coisas: PESSOAS, ECONOMIAS e NATUREZA não são sistemas complexos separados. Esses três são intricadamente conectados, extremamente complexos e compoem um único sistema que se auto organiza. Entretanto, nenhum de nós tem a capacidade cognitiva instintiva para tomar decisões que reflitam [essa complexidade]. Se tivéssemos, naturalmente estaríamos vivendo em equilíbrio com nossos ecossistemas e teríamos que tomar apenas decisões básicas para nós mesmos como qualquer outro animal que usa ferramentas.
Nota: Tradução livre e adaptação Eurico Vianna, PhD.
Mas com o domínio do fogo avançamos muito do uso de tecnologias simples como pedras e lanças. Nosso comportamento social mudou por causa do nosso avanço nas tecnologias e gradualmente começamos a não girir só nós mesmos, mas a natureza também e com o tempo somamos a dimensão econômica.
Nosso processo simples de tomada de decisão não evoluiu para refletir que agora gerimos uma rede enormemente complexa com dimensões sociais, economicas e ecológicas. Isso resultou em nosso processo de tomada de decisão básico causando uma reação em cadeia negativa por todas as dimensões dessa rede complexa.
Nós não notamos que nosso processo de tomada de decisão é a causa da devastação global porque no ato de cada decisão nós frequentemente atingimos nossos objetivos a curto prazo e seguimos adiante. Só mais tarde os animais, as pessoas, as plantas e as economias sofrem as consequências indesejadas… E nesse momento nós usamos o mesmo processo de tomada de decisão ultrapassado para reagir ou adaptar a essas consequências.
O que segue é um exemplo de um completo desastre ecológico causado por uma única decisão reducionista:
Na década de 60 no Zimbábue as comunidades tradicionais foram retiradas das áreas que estavam sendo reservadas para os Parques Nacionais. O objetivo de curto prazo foi alcançado – as pessoas foram removidas daquelas áreas. No que se refere a preocupação que eles tinham a missão foi cumprida e eles presseguiram para a próxima decisão.
Mas eles ‘empurraram o primeiro dominó’ e sem querer acionaram uma reação em cadeia enorme e invisível por todo o ecossistema – os elefantes (e outros animais) de repente pararam de migrar e se comportar naturalmente porque o predador alfa havia sido removido do ecossistema (humanos são os únicos predadores de elefantes). Vejam o que aconteceu com o Parque Yellowstone quando os lobos foram removidos.
Uma única decisão reducionista resultou em um comportamente repentino e completamente não natural de milhares e milhares de elefantes (e muitas outras espécies) e durante os próximos anos as consequências indejadas dessa decisão para aqueles ecossistemas se tornaram muito visíveis… e o vasto número de elefantes passou a ser culpado pelos danos ecológicos causados pela decisão.
Então, para resolver o dano, as pessoas usaram exatamente o mesmo processo de tomada de decisão e culparam os elefantes pela devastação ecológica; afirmando que haviam elefantes demais. E aí, para resolver o problema dos elefantes em excesso eles resolveram sacrificar 40.000 elefantes. E o fizeram. Eles conquistaram o objetivo de curto prazo, se livraram da maioria dos elefantes. Missão cumprida e de novo seguiram para a próxima decisão. Mas eles tinham empurrado o primeiro dominó de novo, e a consequência da maior decisão reducionista que eles tomaram foi que durante os próximos anos a degradação ficou muito, muito pior, não melhor.
Tudo porque essas pessoas estavam abordando um sintoma (o pulsar e o impacto não natural dos animais), mas ninguém abordou a causa do problema – a gestão humana.
Meu pai, Allan Savory, foi a única pessoa envolvida na decisão devastadora daquele governo de sacrificar aqueles elefantes que se posicionou dizendo que eles haviam cometido um erro monumental. Ninguém mais admitiu que eles estavam errados e até hoje ambientalistas/cientistas e mesmo especialistas em elefantes defendem sacrificar, esterelizar ou mudar os animais de localidade. Nas terras das comunidades tradicionais a pecuária é culpada pela devastação… mas quem maneja esses animais? Nos estados unidos as pessoas gerindo os parques nacionais em biomas parecidos não tem elefantes, gado ou outros animais para culpar, então eles dizem que “processos não conhecidos” são a causa.
Depois do enorme erro com o abate dos elefantes, Allan passou a dedicar sua vida inteira a encontrar soluções para o que quer que seja em nossa gestão que leva à perda de biodiversidade e à desertificação. E ele encontrou.
Com a ajuda de milhares de pessoas durante décadas, ele desenvolveu a estrutura do Gerenciamento Holístico que nos guia pelas dimensões sociais, economicas e ecológicas de nossas decisões e que assegura que não vamos tomar decisões que mais tarde resultam em consequências indesejadas… Nos move a partir de uma gestão reativa, adaptativa para um processo de decisão traz os resultados que queremos proativamente assegurando que cada decisão que tomamos tenha o melhor resultado ecológico possível enquanto considera ao mesmo tempo as circunstâncias sociais e econômicas únicas dentro das quais é tomada.
O Gerenciamento Holístico também ajuda proprietários rurais a aprender como usar animais como ferramenta biológica para regenerar pradarias. Por meio do Planejamento Holístico de Pastagens, animais imitam o relacionamento presa-predador e criam o habitat para vida selvagem desejado. Nos lugares onde proprietários usaram animais para regenerar áreas com grandes populações selvagens os resultados são incríveis. Pradarias se tornam saudáveis de novo e a população de animais silvestres cresce no passo que seu habitat é regenerado.
Sarah Savory, Novembro 2020.