Vandana Shiva Semeando Agricultura Familiar

“O alimento é uma arma. Quando você vende armas, armas de verdade, você controla exércitos. Quando você controla o alimento, você controla a sociedade. Quando você controla as sementes, você controla a vida no planeta Terra! … Nós não podemos esperar que governos e corporações mudem, o povo precisa mudar!”, trechos do filme Sementes da Vandana Shiva.

O documentário conta, por meio de familiares e companheiras de ativismo, quem é Vandana Shiva, de onde ela veio, qual é sua missão e como ela se tornou o pior pesadelo da Bayer-Monsanto. Nele, a própria Vandana conta como uma infancia imersa nas florestas do Himalaia e o estudo da Física Quântica nutriram nela o pensamento ecológico da inseparabilidade, da impossibilidade de substituirmos a sabedoria e os resultados de um laboratório natural com 3.8 bilhões de anos de evolução da vida que cria abundância para todos, por tecnologias que concentram renda, poder e terras nas mãos de poucos enquanto degradam as dimensões sociais, ecológicas e econômicas locais para produzir alimentos tóxicos.

As sementes crioulas ou tradicionais tem milhões de anos de evolução pela natureza. As sementes crioulas das espécies por nós domesticadas tem milhares de anos. Essa co-evolução dos seres humanos e das plantas domesticadas garante a soberania alimentar, mas nos tempos atuais garante plantas capazes de se adaptar a intermitência imprevisível dos períodos de secas e enchentes repentinas causados pelas mudanças climáticas. Essa é apenas umas das lições compartilhadas por Vandana Shiva no filme Sementes da Vandana Shiva.

Outra lição muito forte é a do poder que temos quando agimos em nossas vocações e em prol da vida no planeta. Com ajuda de produtoras familiares, ativistas e apoiadoras, Vandana conseguiu nutrir um movimento em prol da agricultura familiar regenerativa, da soberania alimentar e da biodiversidade no planeta.

Em um trecho do filme Vandana conta como o José Lutzemberger compartilhou com ela uma revelação durante uma manifestação com milhares de agricultoras na Índia. Segundo ela ele disse: “Vandana, as corporações estão tentando acabar com a agricultura familiar no planeta porque estas são as últimas pessoas livres na sociedade de consumo!”.

Deixo link para o site dos produtores do filme onde todos podem doar e pedir o acesso ao filme.

Na semana passada eu compartilhei uma conversa muito interessante entre o Russell Brand e Dra. Vandana Shiva.

O Russel tem feito matérias incríveis sobre como as grandes corporações digitais, como Microsoft, Amazon e FaceBook tem investido na mineração de dados pessoais de pessoas da agricultura familiar e oferecido soluções que na verdade são armadilhas para dominar ainda mais território e centralizar ainda mais a produção usando o campo como plataforma de escoamento das corporações de mineração e petroquímicos.

Para essa semana eu deixo link para a entrevista completa (em inglês) e faço aqui um resumo de idéias e frases que podem nos inspirar a construir juntos a mudança que precisamos ver no mundo.

Segundo a Vandana, “temos que ter acesso ao nosso direito de nascença e viver em harmonia com o planeta e uns com os outros”.

Vandana comenta que por causa da nossa arrogância criamos uma imunidade contra nós mesmos, destruímos todas as leis internacionais, destruímos toda a democracia, prendemos as pessoas no medo e com isso temos enormes dificuldades para responsabilizar os verdadeiros criminosos por trás destes crimes contra a humanidadde. 

Ela menciona o debate sobre a questão dos transgênicos na europa, onde criamos leis sobre a regulamentação dos transgênicos e como as corporações que lucram com eles tentam derrubar essas leis.

Vandana nos encoraja e construir um relacionamento sagrado com a comida, a proteger a integralidade do alimento desenvolvido naturalmente no planeta. Segundo ela, as corporações violam essa integralidade do alimento e tentam quebrar nossa relação ancentral com ele. 

Em primeiro lugar, tudo é comida. Tudo é alimento nos vedas, ela explica. “E se você pensar nisso, ecologicamente, o que é o ciclo da nutrição senão o movimento dos alimentos? Então, tudo é comida. Sim, um ciclo ecológico é o movimento dos alimentos, e é por isso que chamo os alimentos de moeda da vida.

Em segundo lugar, o maior dever é cultivar e dar boa comida em abundância. E o pior pecado é deixar alguém passar fome na sua vizinhança; não cultivar bons alimentos; e pior, vender comida ruim.

Temos que trazer, para o centro de nossa vida cotidiana, os rituais que tornam a vida sagrada. Nossa respiração, que é o que nos conecta ao mundo. A água nos conecta ao mundo, a comida nos conecta ao mundo. Esses não são combustíveis para o corpo. A construção cartesiana sobreviveu tanto e está morrendo em nossa era, mas os barões digitais estão tentando dar a ela uma vida um pouco mais longa, estão colocando o pé no acelerador. Dando mais poder ao modelo cartesiano. E nós temos que dizer não! Temos que ser mais espirituais,mais interconectados, mais capazes de celebrar gratuitamente a vida por meio da abundância que podemos criar.

 

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