A Geografia da Linha Chave aborda o relevo pelo entendimento de linhas primordiais, todas relacionadas com o comportamento da água. Três delas ocorrem naturalmente e duas foram conceituadas pelo inventor, produtor e planejador de propriedades rurais australiano P. A. Yeomans.
Nota: Esse material foi preparado para dar suporte aos alunos dos cursos de Planejamento de Propriedades Rurais com base na Escala de Permanência da Linha Chave (EPLC) e Manejo Regenerativo da Água. Para ficar em contato sobre novas edições dos cursos, novos vídeos e artigos sobre planejamento rural regenerativo e ideias, ações, pessoas e projetos de impacto positivo nas mais diversas áreas se inscreva no canal do Podcast no Telegram (aqui) e na mala direta aqui no site. Se você tem se beneficiado do conteúdo gratuito disponibilizado no site e canal do YouTube considere ser um apoiador. Nesse link você pode apoiar a produção desse conteúdo e nos ajudar a materializar a transformação que queremos ser/ver no mundo.
As cinco linhas primordiais que guiam o entendimento da Geografia da Linha Chave
O nível do mar é a linha à partir da qual entendemos altitudes e os mapas topográficos. Os talvegues são as linhas de escoamento de água por meio das quais os continentes devolvem as águas para o mar. Esse acúmulo de águas nos talvegues se dá porque a água sempre escorre perpendicular (a 90°) à curva de nível. E as cumeeiras, são as linhas divisoras de água no relevo e, por consequência, são lugares mais secos e com menos sedimentos (solos mais rasos). Essas três linhas acontecem naturalmente.
O lugar, em um talvegue primário, onde a água vem de um movimento rápido com potencial erosivo para um de deposição de sedimentos é o Ponto Chave. Desse ponto o Yeomans derivou a Linha Chave. A Linha Chave é um conceito humano que pode ser utilizado em conjunto com as outras linhas naturais para melhorar a hidrologia, prevenir erosão e maximizar a produção nos terrenos onde intervimos.
O Ponto Chave é o ponto a partir do qual temos o melhor custo benefício entre movimento de solo e quantidade de água armazenada. Acima desse ponto é possível armazenar água em açudes de contorno (ou de curva de nível) localizados em cumeeiras ou açudes de sela (entre duas protuberâncias na linhas de uma cumeeira).
Abaixo da Linha Chave Yeomans traçava uma outra linha em curva de nível para irrigar tratos de terra por inundação. Essas linhas são conceituais. A junção das linhas naturais com as conceituais permitem entender o terreno em 4 áreas: uma de captação de água, uma de armazenamento, uma de utilização e uma de reaproveitamento.
As Unidades Primárias de Terreno e as 4 áreas essenciais para o manejo regenerativo da água
É a leitura do relevo por meio das ordens (principal, primária, secundária, etc.), das linhas divisoras (cumeeiras) e das linhas de escoamento de água nos permite derivar o que Yeomans denominou Unidades Primárias de Terreno.
Esse entendimento, por sua vez, complementa a leitura da paisagem em 4 áreas essenciais para o manejo regenerativo da água: uma área de captação acima, uma de armazenamento na altura do ponto e da linha chave, uma de utilização onde podemos produzir com irrigação por gravidade (ou produzir energia usando a água) e uma de reaproveitamento.
A Geometria da Linha Chave decorre em função da Geografia da Linha Chave.
A Geometria da Linha Chave facilita a implementação de linhas de cultivo e de SAFs porque garante a melhoria da função hidrológica com a redistribuição dos fluxos de água e possíveis sedimentos para as cumeeiras.
A redistribuição da água se dá de um ponto mais elevado no talvegue para pontos adjacentes mais baixos nas cumeeiras. O ‘caimento’, no entanto, tem que ser bem sútil. Uma inclinação na qual a linha desce 1 metro a cada 100 percorridos seria o mais íngreme.
É a Geometria da Linha Chave que garante que TODAS AS LINHAS implantadas paralelamente abaixo da Linha Chave (dentro do mesmo talvegue) estarão em “padrão de plantio da linha chave”, e cumprindo a função de redistribuição da água no relevo.
Quando escolhemos uma curva de nível na região mais baixa possível em uma cumeeira como ‘linha guia’, podemos usar a mesma função da Geometria. Nesse caso TODAS AS LINHAS paralelas acima da ‘linha guia’ estarão em Padrão de Plantio da Linha Chave.
A Geometria da Linha Chave também pode ser usada para aplicarmos o subsolador Yeomans e para lavoura com plantio de grãos em palhada ainda com efeitos significativos de melhora na hidrologia do terreno, resolvendo problemas de erosão e regenerando solos.
As ilustrações abaixo são do Regrarians Handbook e mostram as diferenças entre 3 abordagens de plantio em uma área e relevo identicos. As linhas vermelhas representam curvas de nível. Os círculos vermelhos representam os Pontos Chave e as linhas vermelhas mais grossas as Linhas Chaves. As pontilhadas em azul representam os talvegues (linhas de escoamento de água). A linha preta ao topo é uma cumeeira principal e ao centro uma cumeeira primária.
Na primeira imagem o pontilhado verde representa um plantio equidistante. Nesse caso temos 100% do aproveitamento da área, mas ignoramos as características do relevo e frequentemente causamos erosão.
Na segunda imagem o plantio foi feito em curvas de nível. Mas nesse caso perdemos 17% da área e para que alcancemos o efeito hidrológico desejado se faz necessário marcar todas as curvas de nível a serem implementadas. O plantio paralelo abaixo ou acima de uma curva de nível, nesse caso, não garante que as outras linhas estarão em curva de nível.
Já na terceira imagem, além das outras linhas representadas, temos uma em roxo caracterizando uma Linha Guia. Nessa imagem os pontos verdes mostram um Padrão de Plantio na Linha Chave e é possível perceber como os corredores florestais melhoram a hidrologia e previnem a erosão redistribuindo água dos talvegues para as cumeeiras.
Segundo o Yeomans, “O objetivo do Plano da Linha Chave é aprimorar as áreas de agricultura e pecuária revertendo a tendência de deterioração da terra sob ocupação humana. … Ele se baseia na crença de que toda busca da agricultura ou pecuária são em si mesmas meios de melhorar cada vez mais a fertilidade no solo.” (P. A. Yeomans em O Desafio da Paisagem escrito 1958).
Para uma introdução a Escala de Permanência assista o vídeo abaixo ou leia esses artigos aqui, aqui e aqui.