A escala de aplicabilidade da agricultura regenerativa é um ponto que tenho abordado muito em aulas, não para criticar a agrofloresta ou qualquer outra abordagem de produção em larga escala ou quaisquer dos seus adeptos, mas para criar diálogo e buscar soluções que, de fato, abordem a raiz do problema.
O trabalho de pesquisadores tarimbados como Sebastião Pinheiro, Ana Primavesi, Miguel Altieri, Pablo Tittonell, Gliessman, entre outros, traz que são os pequenos produtores com propriedades até 2 hectares que produzem a maior parte dos alimentos (não comódites) do mundo. Aqui no Impacto Positivo o Dr Walter Steenbock já explicou como o agronegócio tem contribuido para a degradação do meio ambiente e a perda da biodiversidade, e como juntos esses fatores nos levaram ao Antropoceno; a sexta maior extinção em massa na história do Planeta Terra.
Para viabilizarmos uma “grande escala de produção” no paradigma atual são necessárias grandes propriedades, maquinário, investimento e concentração de renda. A larga escala, então, em qualquer abordagem agropecuária, exclui social e economicamente o pequeno produtor. Mais ainda, ela frequentemente tem que escoar sua produção muito além das fronteiras biorregionais perpetuando assim problemas de poluição relacionados a cadeia de distribuição.
A grande escala de produção agropecuária continua ‘tentando’ resolver um outro problema de escala que criamos ao projetarmos mega-cidades. Esse tipo de urbanismo é um erro social, econômico e ecológico que só foi alcançado graças a abundância de combustíveis fósseis, que já sabemos estar em rápido declínio de extração.
É a velha lógica capitalista… ainda trabalhando na eficiência (no caso a escala) e substituição (a tecnologia agroflorestal ou outra abordagem regenerativa) e não no redesenho (estágios de mudança elaborados Stuart Hill, PhD, para adoção de uma agricultura sustentável). Redesenhar, no caso, seria redesenhar nossos sistemas de produção para incluir mais gente com qualidade de vida e viabilidade econômica e ecológica no campo. O redesenho seria uma produção de pequena e média escala, ligada em rede e coordenada em agroindústrias cooperativas, desinchando e resolvendo em parte o problema que são as grandes cidades.
O gráfico usado no cabeçalho tem circulado na internet com o título “Qual modelo é mais necessário para a sociedade brasileira?”. O gráfico é mais antigo e pode ser encontrado, por exemplo em uma publicação da Escola Milton Santos de Agroecologia de outubro de 2013. Mas é pertinente que tenha sido trazido à tona novamente haja visto a preferência do governo atual (2019) em subsidiar o agronegócio, suas corporações e práticas que degradam a saúde humana e a ecologia. Esse mesmo gráfico também circulou alguns grupos dos quais faço parte e onde cogitamos a utilização da agrofloresta sucessional em larga escala. Mas trabalhos importantes de pesquisadores já citados acima confirmam a noção de que a grande escala é o problema, não a solução.
Então a pergunta que fica é: queremos aumentar escala de produção para atender demandas de um projeto de civilização já falido ou queremos começar outro projeto produzindo de forma holística (social, econômica e ecologicamente harmoniosa)?
Pequenos produtores ligados em rede em suas biorregiões formam uma grande escala, mas o paradigma é outro, é cooperativo, local e descentralizado. Portanto de pouca utilidade para a ideologia vigente, o mercado financeiro e os pouquíssimos que lucram com ele.