Depois dessa conversa com a Marlene Borges e o Walter Steenbock, passei a ter ainda mais certeza de que a maneira pejorativa que nos fazem enxergar as comunidades tradicionais e autônomas é um plano deliberado e bem articulado. Também ampliei meu entendimento sobre a diversidade de modelos e etnias presentes no que chamamos de ‘comunidades tradicionais’.
A comunidade Açoriana que vive há mais de 200 anos nos Areais da Ribanceira, em Imbituba, Santa Catarina, é um modelo de comunidade tradicional autônoma e resiliente que mostra como uma vida boa e digna pode e deve estar a serviço do ecossistema onde ela se viabiliza.
A Marlene compartilha como a vida comunal é um modelo possível para futuro mais justo e integrado com a ecologia. O Walter detalha a interação positiva que acontece nas comunidades tradicionais em torno dos Butiazais no sul do Brasil, Uruguai e Argentina pode regenerar esses ecossistemas enquanto produz alimentos, fibras e proteína animal.
A relação de dádiva possibilita a posse comunitária do território e alimenta a todos. O escambo embasado pelas casas de farinha, produtos de butiá e pesca permite a diversidade de produtos e independência da economia tradicional. O excedente é destinado ao comércio por meio da associação (cooperativa) que viabiliza o viver de todos na comunidade.
Juntos Marlene e Walter compartilham como a comunidade dos Areais da Ribanceira, e tantas outras, têm sido atacadas pela expansão imobiliária, áreas portuárias e diversas indústrias que não se beneficiam de pessoas autônomas exatamente por serem modelos viáveis para um futuro rural, distribuido no qual a escassez energética não permite o modelo atual sem subsidiar o conforto de uns poucos com dignidade, liberdade e privacidade de muitos.
Nota: Por conta de problemas técnicos grande parte da gravação ficou sem som e, em função disso, passamos um tempo tentando restaurar o arquivo de áudio. Infelizmente não foi possível. Ainda assim, os 20 minutos de conversa trazem lições valiosíssimas para quem quer construir um futuro digno e regenerativo para todos.