Na medida em que as pessoas, a agricultura, a arquitetura e a engenharia civil são transformados nas maiores plataformas de escoamento para as indústrias farmacêuticas, as mineradoras e as petroquímicas, nós vamos perdendo o conhecimento tradicional e a soberania sobre nossa saúde, nosso alimento e nossa moradia.
Até relativamente pouco tempo atrás os recursos para para construção de edificações econômicas e multifuncionais tinham que vir da própria propriedade ou da biorregião e o maior insumo era o conhecimento de hidráulica, arquitetura e engenharia. Enquanto foi assim, o conhecimento tradicional nos ensinava a construir com recursos renováveis, com autonomia e soberania de insumos e ferramentas e com eficiência energética; tanto em relação aos meios de construção quanto ao conforto térmico. A regionalidade nos ensinava rapidamente sobre a biocapacidade tornando o esgotamento de recursos ou o saneamento mal feito uma punição quase que imediata.
A sociedade de consumo globalizada segue destruindo alguns territórios para nutrir sua economia em outros. Entretanto, essa dinâmica destrutiva não consegue mais se esconder e hoje vivemos com os processos de desertificação, as mudanças climáticas, a poluição generalizada e o aquecimento global como resultado evidente em todas as partes do globo.
Os princípios de gestão e planejamento ecológicos que guiam as práticas agroecológicas na produção primária são os mesmos que devem guiar a construção de nossas casas, galpões, currais, capris, centros de beneficiamento e de convivência no campo. Só assim conseguiremos ser superavitários energeticamente e voltar a regenerar os lugares onde produzimos e vivemos.
É sobre esse paradigma que converso com o arquiteto e produtor rural Osmany Segall.