A produção de Alimentos em Sistemas Agro-Florestais (SAFs)

O uso de Sistemas Agroflorestais, ou SAFs, para produzir alimentos, fibra, madeira e combustíveis para os humanos é muito mais antigo que a classificação e sistematização científica da prática. Segundo Bill Mollison (1988) apenas 6 civilizações em toda história da humanidade foram, de fato, sustentáveis. Todas elas tinham uma conexão íntima e viviam integradas com a natureza a sua volta. Essas civilizações também praticavam formas de agricultura que hoje chamamos de Agrofloresta ou Agro-ecologia.

Sistemas Agroflorestais e as civilizações do passado
Um exemplo de uma civilização com métodos de produção alimentar sustentável foram os Aztecas. Na América Central algumas comunidades indígenas ainda fazem uso das ‘chinampas’, uma prática herdada dos Aztecas. As chinampas são pequenas ilhas artificiais de aproximadamente 500m2 que funcionam como canteiros elevados. Esses canteiros são construídos em lagos rasos criados em terraços alagados. Os canteiros eram construídos com junco, preenchidos com lama e lodo do fundo do lago e fixados ao fundo estaqueando-se mudas de Salgueiro. Esse sistema, completamente sustentável, já fazia uso de árvores com hortaliças e plantas medicinais desde a América Pré-colombiana (Mollison, B. 1988: 462-3).

No Havaí o sistema de produção agrícola Ahupua`a (chamado por Bill Mollison de Sistema

Esse sistema é chamado de Ohana por Bill Mollison em seus livros.

Ohana) combinava áreas de preservação de florestas ao topo das montanhas vulcânicas, com florestas (regiões) manejadas intensamente ao arredores das vilas nas áreas intermediárias (intermediações), com florestas de coqueiros na costa (como defesa contra tempestades tropicais e tsunamis). Esse sistema também faz uso dos córregos que descem das montanhas e combina terraços alagados para a criação de peixes e crustáceos com o cultivo de diversas plantas e árvores frutíferas. Além disso, esse sistema também manipula a costa criando lagos de água salgada de acordo com o fluxo das marés para facilitar a pesca. O sistema Ahupua`a, é outra maneira muito antiga e sustentável de se produzir alimentos, fibra, madeira e combustível (Mollison, B. 1988: 278 e 459).

 

Na Amazônia Pré-Colombiana várias civilizações indígenas manipularam as florestas e o solo para produzir alimentos para populações muito mais numerosas do que se tinha notícia. Um exemplo disso é a Terra Preta, um solo profundo e riquíssimo em nutrientes encontrado em vários pontos da Bacia Amazônica, que hoje se sabe era deliberadamente criado para apoiar a agricultura da época. O livro 1491: Novas Revelações sobre as Américas antes de Colombo de Charles C. Mann, por exemplo, também menciona outras evidências como uso de estradas, manipulação do solo, agricultura avançada (e sustentável) para apoiar o argumento de que uma civilização sofisticada e numerosa, na casa dos 7 milhões de habitantes que segundo ele, vivia na Amazônia. Mann defende que grande parte da Floresta Amazônica foi na verdade criada por civilizações indígenas. Outro exemplo de práticas agroflorestais antigas que antecedem a classificação e abordagem ocidental (Mann, C. 2005)

Foto comparando a quantidade (e profundidade) de húmus na Terra Preta e no solo comum.

Os SAFs nos dias atuais
Em 1929 J. Russel Smith escreveu o livro A Colheita das Árvores: Uma agricultura Permanente (Tree Crops: A Permanent Agriculture) já preocupado com os efeitos devastadores causados pela aragem do solo e cultivo de grãos. A obra de Smith teve grande influência em ambientalistas e líderes da agricultura regenerativa. David Holmegren e Bill Mollison, criadores da Permacultura, por exemplo, escreveram o livro Permaculture 1 sob grande influência da obra de Smith. Robert Hart, que escreveu Jardinagem Florestal: Cultivando um Paisagismo Comestível (Forest Gardening: Cultivating an Edible Landscape) em 1991 e que teve sua obra referenciada por Bill Mollison em Permaculture: a Designer’s Manual (Permacultura: O Manual do Designer) também sofreu influência direta da obra de Smith (Smith, J. 1929)

Robert Hart foi o pioneiro do que hoje chamamos de agrofloresta em regiões de clima temperado (Hart, R. 1991). Hart explicou em seu livro que uma floresta se estrutura basicamente em 7 camadas:

  1. a copa,
  2. a camada de árvores mais baixas,
  3. a camada de arbustos,
  4. uma camada de plantas herbáceas,
  5. uma camada de plantas forrageiras,
  6. uma camada subterrânea ou de tubérculos,
  7. uma camada vertical com vinhedos e trepadeiras

Seguindo esse princípio, Hart desenvolveu uma paisagem comestível (agrofloresta) à partir de um pomar de maçãs e peras substituindo a maioria das plantas não comestíveis presentes por espécies comestíveis, medicinais ou que fixavam nitrogênio ao solo. Hart acabou adotando uma dieta 90% vegana e praticamente só comia frutas, verduras e legumes produzidos na sua propriedade.

Ilustração retirada do livro Permaculture: A Designer’s Manual (Mollison, B. 1988).

O desenho acima mostra a possibilidade de preenchermos todas as camadas (ou estratos) de uma floresta com plantas comestíveis. Como exemplo, de baixo para cima, poderíamos ter: tubérculos (batata-dôce, gengibre, mandioca, etc.), plantas rasteiras (abacaxi, alface, batata, tomate, manjericão, etc.), arbustos e árvores de pequeno porte (café, cacau, mamão, etc.), árvores de grande porte (abacateiro, mangueira, jaqueira, etc.), na camada mais alta as palmeiras (castanha do Pará, pupunha, etc.) e as trepadeiras (maracujá, xuxú, bucha vegetal, etc.).

Ernst Gotsch, um geneticista botânico suíço naturalizado no Brasil, com mais de 30 anos de experiência em SAFs, criou sua própria classificação (Comunicação pessoal e anotações feitas em cursos). Segundo Gotsch, um SAF é constituído por 4 camadas:

  • Plantas de estrato baixo tem densidade espacial de 80% e são plantas que exigem menos luminosidade para crescimento e produtividade;
  • Plantas de estrato médio podem ocupar 60% da área e suportam o sombreamento pelas plantas de estrato alto no percentual adequado;
  • Plantas de estrato alto podem ocupar até 40% da área, assim a luz permeia e atinge as plantas de estrato médio e baixo;
  • Plantas emergentes, por sua vez, ocupam 20% da área e recebem a luz do sol em toda sua copa.

Nessa classificação da Agricultura Sintrópica de Ernst Gotsch, entretanto, é importante não confundir os estratos (que estão relacionados com a quantidade de luz que as plantas demandam) com ciclos (que estão relacionados com o tempo de vida e colheita das plantas). Cada ciclo (de idade) contém todos os estratos. Por exemplo, no ciclo Placentário I podemos fazer um consórcio onde o Nirá seria o estrato baixo, a rúcula estrato médio, o alface estrato alto e o milho emergente. No Ciclo Placentário II podemos plantar a batata doce como estrato baixo, o inhame como médio, mandioca como alto e o quiabo como emergente. E daí por diante compondo todos os estratos em cada ciclo. Porque essa abordagem lida com várias dimensões espaciais (estratos) e temporais (ciclos), ela otimiza a área de produção em até 400%.

Ernst Gotsch manejando uma SAF

Sucessão Ecológica
Os processos por meio da qual a natureza estabelece os ecossistemas que dão suporte a vida no planeta se chamam sucessão ecológica. É a sucessão ecológica que se encarrega de criar as condições ideais para o estabelecimento da biodiversidade, que por sua vez gera biomassa, cobertura de solo e nutrientes suficientes para o que sistema possa se tornar mais complexo ao longo de sua evolução. A sucessão ecológica primária acontece pela primeira vez em áreas completamente estéreis (por exemplo, depois de erupções vulcânicas, terremotos, eras glaciais, etc.) e pode levar milhares de anos até que o sistema consiga apoiar um ecossistema complexo como uma floresta climax (ou primária). A sucessão ecológica secundária ocorre quando uma área de floresta é degradada pela ação humana (para agricultura, pecuária ou moradia) ou natural (incêndios, desabamentos de terra, tempestades violentas, etc.) e depois é deixada para se recuperar sozinha. Neste caso, o ambiente não é deixado completamente estéril e quando a biodiversidade local ainda consegue se recuperar, a sucessão ecológica pode regenerar o ecosistema ao ponto de formar uma floresta secundária.

Existem algumas classificações diferentes para os estágios da sucessão ecológica. Na sua classificação mais básica e comum encontramos: plantas pioneiras (de crescimento rápido, que se desenvolvem bem a céu aberto e tem tempo de vida curto), secundárias (de crescimento um pouco mais lento, que necessitam de sombra para se desenvolver e com tempo de vida mediano) e climax (plantas de ciclo de vida longo que só se desenvolvem quando a floresta primária já está formada). Em outra nomenclatura bastante utilizada encontramos: capoeirinha (estágio inicial de regeneração), capoeira (estágio médio de regeneração), capoeirão (estágio avançado de regeneração) e floresta secundária . Existe ainda a classificação de Ernst Gotsch (1997) que descreve a função das plantas e seus ciclos de vida nos processos que utilizam os Sistemas Afro-florestais para a regeneração de áreas degradadas. São estas: Placenta I (com plantas que vivem até 6 meses), Placenta II (até dois anos), Secundária I (até 10 anos), Secundária II (até 25 anos), Secundária III (até 80 anos) e Climax (mais de 80 anos).

Independente do tipo de classificação ou abordagem adotadas, é o entendimento das camadas estruturais e da sucessão ecológica que nos permite plantar de uma só vez todos os elementos que fazem parte da sucessão ecológica. Nos SAFs as árvores pioneiras, as de estrato médio, as fixadoras de nitrogênio, as que formam a barreira de vento, as que geram matéria orgânica para biomassa e as de clímax, são plantadas com as plantas forrageiras, as hortaliças, os tubérculos e os grãos. Essa estratégia, juntamente com as práticas de poda e cobertura de solo, nos permite acelerar os processos naturais de sucessão ecológica regenerando áreas degradadas enquanto produzimos alimentos, fibra, madeira e combustíveis.

Bill Mollison, que criou a Permacultura junto com David Holmgren, no entanto, alerta que o estabelecimento de agroflorestas nas regiões tropicais só deve ser feito como forma de reabilitar áreas degradadas pela ação do homem como no caso de pastagens feitas por queimadas e pastoreio, de desmatamentos causados pela estração de madeira ou para o cultivo de monoculturas (Mollison, B. 1988: 293-294).

Parte das informações contidas nessa tabela foram compiladas de Gandolfi, R.; e Rodrigues, R. (1996) e Cruz, E. (2012).

Usando animais no estabelecimento de agroflorestas
O contexto holístico (social, ambiental e financeiro) dentro do qual desenvolvemos a Fazenda Bella exclui a utilização de fertilizantes e pesticidas químicos e sempre que possível procuramos preparar o solo sem ará-lo. A utilização de animais no preparo do solo para a agrofloresta é uma alternativa comum e eficiente na permacultura e agroecologia. Em áreas onde muitos arbustos densos e espinhosos são um problema, é possível cercar a área e usar cabras para desbastar a vegetação indesejada. Após a pastagem e romaneio severos da área pelo rebanho fica muito mais fácil limpar o terreno. A adubação do solo, em grande parte, já se deu naturalmente pela presença dos animais e o estabelecimento da agrofloresta pode ser feito mais facilmente.

Em situações onde pretendemos estabelecer uma agrofloresta em áreas de pastos degradados, uma técnica semelhante pode ser adotada cercando galinhas ou porcos (boa opção em áreas compactadas) por um determinado tempo antes de começarmos o plantio. Para mais informações sobre esse tipo de solução veja “Sistemas de aragem animal” em Mollison (1988: 299-300). Em casos extremos de degradação e compactação do solo, no entanto, a correção do solo é feita uma única vez com pó de rocha e adubos orgânicos, juntamente com a aragem e encanteiramento para facilitar o plantio e melhor estabelecer a agrofloresta.

 A escolha das espécies
Para cada árvore frutífera ou de madeira é necessário escolher espécies e cultivares de apoio, ou seja, que fixem nitrogênio, promovam a melhoria do solo ou sirvam de bio-acumuladores de nutrientes, para complementar o design da agrofloresta. Pomares ou agroflorestas devem ser compostos por:

  • árvores frutíferas ou castanheiras que sejam resistentes as doenças;
  • árvores para barreira de vento que não compitam por luz, água ou nutrientes;
  • árvores alternativas espaçadas que forneçam forragem para abelhas, insetos e pássaros que atuem como controle biológico de pestes.

Também é preciso definir como os estratos médios e baixo da agrofloresta (áreas sombreadas) serão utilizados. São alternativas comuns:

  • plantar adubos verdes ou forrageiras que fixam nitrogênio, como Trevo Branco (trifolium repens);
  • plantar espécies que sirvam de forragem para gansos, galinhas e ovelhas, por exemplo;
  • plantar espécies que sirvam para repelir insetos (nocivos) e gramas invasoras;
  • fazer o cultivo de hortaliças até que área seja sombreada pelas copas das árvores.

SAFs para subsistência familiar
No caso do estabelecimento de SAFs para subsistência familiar o plantio pode ser feito obedecendo a estrutura de camadas e sucessão natural, porém com distribuição aleatória no terreno. Vale ressaltar ainda que é sempre melhor plantar uma área de 1000m2 de maneira adensada do que plantar árvores e arbustos esparsos por uma grande área. Também é importante manter uma proporção de pelo menos 4 a 6 árvores grandes juntamente com várias outras plantas que fixam nitrogênio para cada 1000m2 de agrofloresta (Mollison, B. e Slay, R. 2011: 123-128).

SAFs para empreendimentos comerciais
Para o caso de empreendimentos comerciais o plantio em corredores facilitará o uso de maquinário para colheita e controle de gramas e capins invasores (Mollison, B. e Slay, R. 2011: 123-128). Nesse caso, para otimizar tanto a água da chuva como da irrigação, e principalmente em terrenos com inclinação mais íngreme, é importante que os corredores de plantio sejam estabelecidos em curva de nível.

Usando animais na agrofloresta
Uma vez que a agrofloresta esteja estabelecida é possível introduzir animais na área. A vantagem da utilização de animais em pastejo ou romaneio debaixo das árvores é o controle de pestes e adubação natural do terreno. Nesso caso, as galinhas ou porcos comem as frutas que caem no chão impedindo a proliferação de moscas e aproveitando um recurso que, de outra forma estaria perdido. Galinhas e/ou patos podem ser introduzidos depois que as árvores atingirem de 2 a 3 anos de idade em uma concentração de 120 a 240 por hectare sem que isso degrade os arbustos e plantas forrageiras abaixo da copa das árvores. Porcos podem ser introduzidos à partir de 3 a 7 anos do estabelecimento da agrofloresta. Depois de 7 a 20 anos do estabelecimento da agrofloresta é possível introduzir vacas e ovelhas. Nesse caso é necessário prestar atenção para esses animais não danifiquem o tronco das árvores (Mollison, B. e Slay, R. 2011: 125).

 

Referências:
A maior parte do conteúdo referente ao método de Ernst Gotsch (Agricultura Sintrópica) foi baseada em notas e comunicação pessoais tomadas durante cursos básicos e avançados em SAFs com Ernst Gotsch e Juan Pereira entre 2014 e 2016. Também foram usados os livros:

Götsch, E. O Renascer da Agricultura. Rio de Janeiro: ASPTA, 1995.

Götsch, E. Homem e Natureza – cultura na agricultura. – 2.ed. – Recife: Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, 1997.

O artigo:

Götsch, E. 1997. Break-through in agriculture. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1995.

Também usamos a tabela “Lista de espécies com os estratos que ocupam e ciclos de vida” que foi parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Agronomia de Helber Cruz.

Cruz, E. Q. A. Implantação de sistema agroflorestal como proposta de desenvolvimento sustentável na agricultura familiar. Planaltina-DF, 2012. 98

Os livros Permaculture: A Designer’s Manual e Introduction to Permaculture foram usados para embasar o contexto histórico e técnico da implementação dos Sistemas Agroflorestais e os desenhos da análise de setores e zoneamento da Fazenda Bella.

Mollison, B. (1988). Permaculture: A Designer’s Manual. Tasmania, AU: Tagari Publications.

Mollison, B e Slay, R. (2011). Introduction to Permaculture. Tasmania, AU: Tagari Publications.

O livro de Robert Hart, Forest Gardening: Cultivating an Edible Landscape, apesar de focar em agroflorestas em regiões de clima temperados, é uma das maiores referências em termos do entendimento do funcionamento de uma agrofloresta em camadas ou estratos. O trabalho de Hart também influenciou a abordagem permacultural das agroflorestas.

Hart, R. (1991). Forest Gardening: Cultivating an Edible Landscape. UK: Green Books.

O livro de J. Russel Smith, Tree Crops: A Permanent Agriculture, foi um dos primeiros alertas sobre a degradação causada pelos métodos convencionais de agricultura baseados na aragem do solo e cultivo anual de grãos. Em 1929 Smith já alertava para os problemas de erosão e degradação ambiental causados por uma agricultura que ara e deixa o solo exposto entre safras anuais de grãos. Smith foi um dos primeiros proponentes de métodos de agricultura perenes, daí sua ênfase no uso de árvores para produção de alimentos.

Smith, J. (1929). Tree Crops: A Permanent Agriculture. New York: Harcourt, Brace and Company.

Mann tem alguns livros que revisam a história dos povos indígenas nas Américas antes da invasão europeia. Embora contundente e muitas vezes severamente criticado, Mann argumenta que as Américas eram muito mais populosas do que a história oficial reconhece. Segundo ele mais de 12% da área da mata Amazônica pode ter sido desenvolvida pela ação direta de seus habitantes, mais um exemplo de como as práticas agroflorestais são muito mais antigas do que a maioria dos historiadores e cientistas ocidentais reconhece.

Mann, C. (2005). 1491 New Revelations of the Americas Before Columbus. New York: Knopf.

O livro de James Lovelock, apesar de abordar um conceito que já fazia parte de várias culturas tradicionais, apresentou com bases e argumentos científicos para a comunidade ocidental a noção de que o Planeta Terra funciona como um grande organismo ‘Gaia’ com capacidades autoreguladores que propiciam os processos vitais no planeta.

Lovelock, J. (2000). Gaia: A new look at life on Earth. Oxford University Press. UK.

 

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