Santuários de Sanidade Mental e Ecológica

“Nós abusamos da terra por acreditarmos que é uma comódite que nos pertence. Quando vermos a terra como uma comunidade a qual pertencemos, nós podemos começar a usá-la com amor e respeito” (Aldo Leopold). É nesses Santuários de Sanidade Mental e Ecológica, que já brotam por toda a parte, que quero estar de mãos dadas com as pessoas que já são conscientes das limitações desse projeto de civilização e de que um novo viver, autônomo e harmonioso, precisa ser inventado urgentemente.

Desde que o novo governo foi eleito eu venho dizendo que, pelo menos supostamente, há uma coisa boa em tudo isso de ruim que está acontecendo no Brasil. Saber que o que aparenta ser um retrocesso social, ambiental, cultural e educacional, na verdade não é um retrocesso, é o estado atual da maioria no Brasil.

A previdência está sendo alterada e o lucro que se concentra nas mãos de poucos virá também as custas de pessoas mais velhas, frequentemente pobres. Isso acontece apesar da nossa herança cultural dos povos africanos e indígenas que sempre nos ensinou a cuidar, respeitar e valorizar os mais velhos.

As leis ambientais estão sendo flexibilizadas mesmo em meio a crimes ambientais que mataram centenas, como nas represas da Vale em Mariana e Brumadinho. Como nos casos de atentados a agentes da FUNAI, ICMBIO e IBAMA. Enquanto nossa herança cultural dos povos africanos e indígenas sempre nos ensinou a viver em harmonia com o planeta.

Nossa comida está sendo cada vez mais envenenada, enquanto Hipócrates já nos ensinava a fazer do alimento nossa medicina.

São mazelas… sociais, ambientais e mentais mesmo. Na Medicina Tradicional Chinesa, quando uma mazela se apresenta devemos ser gratos por poder identificá-la e trabalhar na cura. Mas esse lado positivo é só ‘supostamente’ bom porque para existir ‘tratamento’ o afligido precisa não só estar consciente de sua mazela, mas querer ser tratado.

Aí fico imaginando quantos escravos defendiam seus senhores e capitães do mato ou quantos campesinos ou plebeus defendiam o feudalismo? Digo isso porque nunca a concentração de renda e poder foi tão desigual e escancarada! Nunca foi tão claro que esse sistema vigente esvai a empatia, a humanidade, nos faz degradar a natureza (e nós mesmos como parte integrante dela). E ainda assim há muitos que defendem o quadro que piora dia-a-dia.

Mas o fato é que não vejo possibilidade de “tratamento”, de esperança, para esse projeto de civilização.

Os que defendem esse sistema, seus líderes e sua viabilidade vão enterrar muitos inocentes, como já fazem há muito tempo em nome do lucro. Em nome do lucro também envenenamos as pessoas, os animais e o meio ambiente. Durante esse processo de criação de uma economia sociopata extinguimos 200 espécies todo dia, na Era que passou a ser chamada de Antropoceno. Nossa poluição dispara ciclos de feedback auto-reforçados que deixam o planeta cada vez mais febril, reforçando ainda mais a extinção de tudo e todos.

Não há sentido no “ninguém solta a mão de ninguém” se for para nos apoiarmos dentro do projeto atual de civilização. Precisamos abandonar rapidamente os que perderam sua humanidade e não querem ajuda! Precisamos rapidamente encontrar os que já acordaram para a gravidade da situação e já estão dispostos a abandonar esse modelo para criar outro, de fato, humano e harmonioso.

Nas palavras de Clarisse Lispector contidas em uma mensagem que uma amiga me mandou, “liberdade para mim é pouco, o que eu quero ainda não existe.” Por isso precisamos criar santuários de sanidade mental e ecológica! Precisamos restaurar o planeta enquanto nos tornamos responsáveis pelo nosso viver. Precisamos que haja uma possibilidade saudável e digna para que as gerações futuras possam habitar o planeta. O foco deve ser na criação desses lugares, não na conversão ideológica dos que querem conquistar e desfrutar de privilégios as custas da saúde do planeta e das futuras gerações que o habitarão.

Só lugares assim sobreviverão ao colapso econômico, energético e ambiental que já se forma rapidamente. E no caso de uma hecatombe geral, como uma extinção em massa ainda maior do que a que está em curso causada pelo aquecimento global repentino (já anunciada em pesquisas publicadas nos jornais especializados) sejamos corajosos! Porque só em lugares assim manteremos a dignidade humana, a compaixão e a empatia até o final.

Nesses santuários de sanidade mental não pode haver espaço para fundamentalismos, para caixinhas que facilitem o sentimento de pertença excluindo ‘o diferente’. O diferente trará lições desde que a humanidade, a compaixão e a empatia estejam presentes.

À partir desses lugares pode haver uma mudança genuína que torne o atual obsoleto, como dizia Buckminster.

São nesses lugares, que já brotam por toda a parte, que quero estar de mãos dadas com vocês. Com as pessoas que não são melhores que ninguém, mas que são conscientes de suas limitações, das limitações do modelo atual e por isso já constroem outro viver.

Fiquem bem! Procurem as companhias e atividades que alimentem e mantenham a sua chama brilhando! Mudança boa a gente faz em boa companhia!

Nota: Das sincronicidades da vida… esse artigo surgiu como desabafo e resposta de apoio a uma amiga muito iluminada e super alinhada com as causas da saúde humana e da Mãe Terra. Além de tantas notícias péssimas para saúde humana e do meio ambiente já anunciadas por esse governo, ela tem se esgotado em diálogos ‘tentando ajudar’ as pessoas que apoiaram ou ainda apoiam o projeto de governo atual. Ela tem disponibilizando livros, artigos científicos e dados nas áreas em que ela atua e possui várias pós-graduações e especializações (nutrição e medicina tradicional chinesa) e doado seu tempo e energia para essas pessoas. No mesmo dia em que escrevi a versão original para ela, outro amigo me escreveu dizendo que a dominação da natureza e subsequente degradação é ‘natural’ do ‘homem’. Que o conceito de ecologia é novo, mas que a ‘cultura’ sempre dominou a ‘natureza’. Respondi que esse é o paradigma que nos trouxe ao ponto crítico de devastação que chegamos. Ainda no mesmo dia recebo a citação de Aldo Leopold que abre o artigo.

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