O segundo insight do Gerenciamento Holístico consiste em uma nova forma de classificar ecossistemas de acordo com um contínuo que vai de não-friável (1) até muito friável (10) dependendo de como a umidade é distribuída ao longo do ano e como a serrapilheira (vegetação morta) se decompõe. Nos extremos dessa escala os ecossistemas respondem de maneira diferente a influencias iguais. O descanso, por exemplo, restaura a paisagem em ecossistemas não friáveis, mas causa danos nas paisagens muito friáveis.
Mas primeiramente, vamos esclarecer o que é ‘friável’. Segundo Allan Savory, “friabilidade não é o mesmo que fragilidade” (Savory, A. e Butterfield, J. 2000: 30).
“Dentro de várias classificações ambientais”, ele explica, “existem áreas facilmente perturbadas por uma série de forças e comunidades robustas que aguentam muito mais abuso. Entretanto comunidades frágeis podem existir em ambientes não-friáveis (por exemplo, uma camada de samambaias em uma floresta), e alguns ecossistemas bastante friáveis podem não ser frágeis (por exemplo, as savanas africanas ou as pradarias norte americanas).” (Savory, A. e Butterfield, J. 2000: 30)
Outra confusão que acontece com frequência é acreditar que a vulnerabilidade de determinado ecossistema aos processos de desertificação está ligada somente ao índice pluviométrico. Isso se dá por causa da correlação que os dois extremos da Escala tem com esse índice. Entretanto, essa vulnerabilidade é determinada mais pelo grau de friabilidade do que pela precipitação total.
Quanto mais perto chegamos do 10 na Escala de Friabilidade, mesmo com índices pluviométricos entre 750 e 2000 mm, mais rápido a região vai deteriorar sob as práticas da agricultura moderna. Mas isso não é para indicar que não-friável signifique não vulnerável à deterioração, como os grandes desmatamentos das florestas tropicais deixam claro (Savory, A. e Butterfield, J. 2000).
Não existe um corte claro indicando onde um ecossistema passa de não-friável para muito friável. Mais do que a quantidade de chuva que cai por ano, o que melhor caracteriza a posição de um ecossistema na escala então é a distribuição da chuva e da umidade relativa do ar durante todo ano. “Para o extremo muito friável da escala, os ecossistemas tem caracteristicamente uma distribuição errática tanto das chuvas como da umidade relativa do ar durante o ano” (Savory, A. e Butterfield, J. 2000: 30).
Todos os ecossistemas se encontram em algum ponto entre 1 e 10 na escala. A maneira mais fácil de determinar onde é olhar várias áreas [dentro do mesmo ecossistema] e avaliar como a maior parte da vegetação está se decompondo. No extremo não-friável a decomposição será 100% biológica. Isso diminui regularmente na medida em que um ecossistema se aproxima da friabilidade e a decomposição física e química aumentam. Você deve se preocupar como como a maior parte da matéria orgânica se decompõe ao longo de todo o ano. (Savory, A. e Butterfield, J. 2000: 35-36).
Outra forma de identificarmos o grau de friabilidade é a quantidade de solo exposto que encontramos em determinada área. Isso porque na ponta não-friável da escala “é extremamente difícil, se não impossível, de criarmos grandes áreas de solo exposto e mantê-las assim (Savory, A. e Butterfield, J. 2000: 36).
Falamos muito em ‘sucessão natural’, especialmente quando tratamos de sistemas agroflorestais, mas frequentemente nos esquecemos que fauna e flora evoluíram juntas. Esquecemos a interdependência entre insetos, animais e plantas das mais variadas espécies. Nos ecossistemas friáveis como as savanas africanas e as pradarias norte americanas, eram as grandes manadas de herbívoros em constante movimento migratório que complementavam a umidade relativa por meio da urina e fezes. A altíssima densidade dessas manadas, devido a conexão presa-predador, também ajudava na decomposição da matéria orgânica por meio do pisoteio.
Juntamente com os outros 3 insights do Gerenciamento Holístico, a classificação de ecossistemas de acordo com a Escala de Friabilidade, nos auxilia a avaliar a necessidade e utilidade dos animais herbívoros como ferramenta para restaurar a saúde de um ecossistema.
Referência: Savory, A. e Butterfield, J. (2000). Holistic Management: A New Framework for Decision Making. Island Press. EUA. (Tradução livre Eurico Vianna)
Nota sobre o Impacto Positivo e a turnê Gerenciamento Holístico 2019 – Solto esse programa já em meio a preparações de outra viagem para o Brasil na qual estarei promovendo junto com o educador/consultor Australiano Graeme Hand o Gerenciamento Holístico no Brasil. Vou trabalhar com a Escola de Permacultura, com a Fazenda Bella e com novos parceiros no interior de São Paulo, mas preciso da ajuda de todas as pessoas que gostam do conteúdo para divulgar essa turnê! Peço a todos que compartilhem o conteúdo específico do Gerenciamento Holístico para eu possa encontrar parceiros que viabilizem esse projeto e os podcasts de maneira geral como forma de mostrar que outro mundo é possível, já existe, é viável e muito mais digno, saudável e harmonioso.
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